No meio da pandemia da covid-19, em 2020, a economista Monica de Bolle, pesquisadora sênior do Peterson Institute for International Economics (PIIE), de Washington, onde mora com a família, resolveu estudar imunologia e infectologia para se aprofundar no assunto. O mestrado na área está na fase final e, por conta do aprendizado, ela alerta sobre a necessidade dos planos econômicos dos governos estarem mais preocupados com o avanço das doenças infectocontagiosas no contexto atual.
Devido ao movimento antivacina e ao aumento das mudanças climáticas, principalmente no Brasil, onde a floresta e vários biomas estão sendo exterminados pela falta de poder de fiscalização das autoridades ambientais no atual governo, os problemas na área de doenças infectocontagiosas tendem a aumentar e a ficar muito mais relevantes, segundo ela.
"Passamos por muitas décadas sob a ilusão de que não havia mais tantos problemas na área de doenças infectocontagiosas. Mas não temos mais essa situação hoje em dia. A quantidade de bactérias comuns que são resistentes a antibióticos é cada vez maior", argumenta.
Além disso, a especialista ressalta o fato de haver muitas espécies diferentes de bactérias que são resistentes a muitos medicamentos tradicionais. "O grande problema é que não temos nada para substituir o que temos de antibióticos. Esse é um problema econômico gravíssimo que não está sendo levado em conta. Novos vírus e novas bactérias resistentes estão aparecendo e as doenças infectocontagiosas vão ter um papel de extrema relevância como determinantes dos rumos de políticas econômicas de todos os países", destaca.
Por conta dessa conjuntura, Monica de Bolle acredita que ser apenas economista, nos tempos atuais, sem entender de doença infectocontagiosa, "não funciona mais", e os programas de governo precisam ter também essa preocupação mais voltada para a saúde. Segundo ela, a varíola dos macacos (monkeypox), por exemplo, ainda deve evoluir bastante, apesar de o vírus não ter uma mutação tão acelerada quanto o da covid-19, porque já mudou bastante em quatro anos. Além disso, o país precisará desenvolver conhecimento para lidar com a doença e proteger a população.
Em relação à pandemia provocada pelo novo coronavírus, apesar da queda no número de casos e de mortes no Brasil e no mundo, a especialista alerta para o fato de que a doença não será erradicada facilmente. "O vírus não vai embora. Ele já se estabeleceu firmemente entre humanos. Ele não vai sumir. Em algum momento, vamos entrar em uma fase que está acontecendo no mundo inteiro em que uma boa parte da população, a maioria, vai ter alguma imunidade contra esse vírus. Então, você já não vai ter mais situação em que é um vírus novo e ninguém tem defesas contra ele. E estamos bem perto disso", explica.
Nesse estágio, a gravidade da doença tende a ser menor, mas ainda haverá casos graves, em pessoas com comorbidades, ressalta a economista. "A doença é resultado da interação entre o vírus e o paciente. O vírus tem uma grande capacidade de mutação, assim, ele vai continuar mudando mais rápido do que a gente é capaz de responder. Então, a doença vai continuar. Enfim, a covid não vai acabar e o vírus não vai sumir", afirma.
Como a maioria dos países já entrou numa espécie de adaptação, governos e sociedade, de um modo geral, estão alinhados na necessidade de conviver com o vírus, de acordo com a especialista. "E conviver com o vírus significa que, eventualmente, você vai pegar", ressalta. Ela lembra que, nos Estados Unidos, o governo já programou uma vacina anual contra a covid-19. Mas ainda há países, como a China, que estão tentando de todo jeito fazer o impossível, com as políticas de lockdown para um problema em que todos vão ter que aprender a conviver diariamente.
Saiba Mais
- Brasil TSE autoriza reforço das Forças Armadas para segurança no 1º turno
- Política Rosangela Moro se desculpa após vídeo comendo enquanto mulher revira o lixo
- Esportes Vini Jr. cala racistas e baila ao lado de Rodrygo em comemoração de gol
- Política Ex-bolsonarista aposta R$ 1,5 mi na vitória de Lula: "Brasil só piorou"
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.