CONJUNTURA

Após 2º mês de deflação, economistas dizem que resultado não deve se sustentar

Combustíveis derrubam o IPCA de agosto. Mas, para economistas, esse resultado não deve se sustentar a longo prazo

Raphael Pati*
postado em 10/09/2022 03:30
 (crédito: Carlos Vieira/CB/D.A.Press)
(crédito: Carlos Vieira/CB/D.A.Press)

Mais uma vez sob o impacto do corte de impostos e da redução de preços de combustíveis nas refinarias anunciada pela Petrobras, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou deflação pelo segundo mês seguido. Em agosto foi -0,36%, depois do recuo de -0,68% em julho, como divulgou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Assim, a inflação em 12 meses baixou do nível de dois dígitos pela primeira vez em quase um ano: desceu dos 10,07%, no acumulado até julho, para 8,73%.

O impacto da queda no preço dos combustíveis foi expressivo. Os quatro itens que fazem parte direta ou indiretamente da vida do brasileiro — gás veicular (-2,12%), óleo diesel (-3,76%), etanol (-8,67%) e gasolina (-11,64%) — tiveram redução de preços. Além disso, o grupo de transportes, em geral, teve recuo de -3,37%, o que contribuiu em -0,72 pontos percentuais (p.p.) no resultado final.

A queda acentuada do preço dos combustíveis é resultado da aprovação do teto do Impostro sobre Circualçao de Mercadoras e Serviços (ICMS) para o insumo, cuja lei foi sancionada em 24 de junho pelo presidente Jair Bolsonaro (PL). Além disso, as quatro reduções realizadas pela Petrobras nos últimos dois meses — fruto da queda no preço internacional do petróleo — contribuíram para o resultado.

inflacao
inflacao (foto: afp e pacifico)

Por não considerarem sustentável a queda da carestia, especialistas acreditam que a inflação negativa será temporária. "Não é porque tivemos dois meses com deflação que o controle inflacionário está perfeito. Não está. Essa inflação vai voltar à sua rotina normal quando superar essa deflação, digamos, quase que administrada, porque é um efeito direto de duas medidas da administração pública", alerta o economista Antônio Carlos Alves dos Santos, professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo.

Além da redução do ICMS e da queda do barril de petróleo, outra decisão de governo que afeta o preço dos combustíveis é a ausência de incidência de PIS/Cofins e Cide nos combustíveis. Durante a sabatina do CB.Poder, na última quinta-feira, Bolsonaro disse, se reeleito, que deve manter zerados esses dois tributos para 2023.

Mas para William Baghdassarian, economista e professor do Ibmec-DF, a volta desses dois impostos poderia elevar o preço dos combustíveis em torno de R$ 0,80. Considerando as eleições de outubro, o próximo presidente decidirá se a União continuará a perder receita.

"Se voltarem os impostos, a gente fala de uma coisa em torno de R$ 0,80 de aumento. E assim pode ter uma inflação, caso o preço do barril de petróleo no mercado internacional não caia", adverte.

A redução do preço dos planos de telefonia fixa e móvel também foi outro fator que impulsionou a deflação de agosto. De acordo com o IBGE, o grupo "Comunicação" teve queda de -1,10% no mês passado. Os planos de telefonia fixa no período tiveram saldo negativo de -6,71%, e os de telefonia móvel, de -2,67%.

 

Alimentos

Outro destaque da pesquisa foi a desaceleração do grupo de alimentos e bebidas, que passou de uma alta de 1,30% em julho para 0,24% em agosto. Segundo o IBGE, houve uma quase estabilidade no componente "alimentação dentro do domicílio", que registrou alta de 0,01%. Em contrapartida, a "alimentação fora do domicílio" teve inflação de 0,89%.

O levantamento mostra que houve queda no preço do leite longa vida, que em julho teve um aumento de 25,46% e, em agosto, recuou 1,78%. Outros itens que caíram de preço: tomate (-11,25%), batata inglesa (-10,07%) e óleo de soja (-5,56%).

No sentido inverso foram queijo (2,58%) e frutas (1,35%). Já o frango em pedaços assustou: disparou 2,87%, resultado que, segundo Aurelio Troncoso, economista e coordenador do Centro de Pesquisas do Mestrado da Unialfa, é consequência do aumento da demanda pelo alimento. "Como a carne bovina está muito cara, as pessoas optam pelo frango", explica.

*Estagiário sob a supervisão de Fabio Grecchi

 

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