O presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Erik Alencar de Figueiredo, assinou um estudo que contesta todas as recentes pesquisas que apontam o aumento no número de brasileiros em situação de insegurança alimentar ou com fome. Apresentado no dia 17 de agosto, durante uma entrevista coletiva do Ministério da Cidadania, o documento traz um emaranhado de suposições para alegar que a fome no Brasil não aumentou durante o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Ex-subsecretário de Política Fiscal do Ministério da Economia, Figueiredo argumentou que o aumento da fome deveria ter resultado em um "choque expressivo" no aumento de internações por doenças decorrentes da fome e da desnutrição, além de um número maior de nascimentos de crianças com baixo peso.
"De forma surpreendente, esse crescimento [de insegurança alimentar e desnutrição] não tem impactado os indicadores de saúde ligados à prevalência da fome, o que contraria frontalmente a literatura especializada", diz um trecho do documento, que contém 20 páginas.
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Em um tom de propaganda eleitoral, o estudo menciona a ampliação de programas sociais e um "aumento no poder de compra em termos de cestas básicas, para concluir que os brasileiros mais pobres estariam comendo melhor, o que é frontalmente contrário a todos os estudos realizados até agora sobre o tema no Brasil por instituições reconhecidas."
"Isso ocorreu possivelmente em razão dos programas sociais existentes. Nesse aspecto, merece destaque o avanço que o programa Auxílio Brasil tem representado, expandindo o número de famílias beneficiárias em todas as regiões do país e aumentando o poder de compra do benefício em termos de cestas básicas."
"Cara propaganda eleitoral"
O material não foi discutido e nem recebeu parecer de outros pesquisadores, diferentemente do que costuma ser feito. A Associação dos Funcionários do Ipea (Afipea) declarou que a divulgação desses dados foi uma violação da legislação eleitoral que proíbe a publicidade institucional nos 90 dias que antecedem as eleições.
"Na tentativa de produzir efeitos e repercussão, o governo federal utiliza-se da máquina estatal para a produção do que 'aparenta ser', na realidade, uma cara propaganda eleitoral. Custa o preço da democracia, do jogo limpo e do respeito às instituições", afirmou a entidade, em nota.
Os técnicos do Ipea entendem que não podem nem dar entrevistas no período eleitoral. Tradicionalmente, o intervalo é usado para a organização e sistematização de estudos e pesquisas, que passam a ser divulgados ao fim do embargo.