Lisboa — A degradação dos oceanos está acelerada, colocando em risco a sobrevivência do planeta. Governos, iniciativa privada e sociedade precisam se unir para que ainda seja possível conter os estragos provocados pelo excesso de poluição despejada nos mares. Se nada for feito, até 2050 haverá mais lixo nos oceanos do que peixe. Na avaliação de João Amaral, presidente da ONG Voz dos Oceanos, da família Schurmann, é preciso que o Brasil se engaje com força no projeto de preservação das águas que ocupam 70% do planeta.
“Acho que há muito a ser feito, que o Brasil realmente pode e deve ter participação e mais protagonismo nos temas. Nós temos uma área costeira gigantesca. Então, pela nossa presença em termos de território e sobre tudo o que está sendo feito, sim, a nossa presença pode ser muito mais contundente, muito mais forte”, afirma Amaral. Ele ressalta que há um pioneirismo da Comunidade Europeia em relação à proteção dos oceanos, em especial nos países nórdicos, e vê como fundamental a adesão da China a esse processo.
Os oceanos, diz Amaral, são fontes de riqueza, mas sua exploração hoje é predatória. Para ele, os países precisam entender que a economia azul, da qual se começa a falar, é fundamental para o desenvolvimento sustentado do planeta, pois conjuga geração de riqueza e preservação. Pelos cálculos dele, 90% de todas as mercadorias transportadas no mundo transitam pelos mares. Portanto, é vital integrar esse comércio a outros ramos da economia. A tecnologia e a inovação serão as bases desse novo modelo, mas nada será possível se não houver um processo de conscientização, que passa prioritariamente pela educação.
“Há desafios e uma série de oportunidades”, frisa o presidente da Voz dos Oceanos, que passam por um processo de internacionalização, a fim de que todo o trabalho de mais de 40 anos feito pela família Schurmann não se perca, como ocorreu com o legado do francês Jacques Cousteau. Ao longo de dois anos, iniciados em agosto de 2021, os Schurmann vão singrar os mares para mostrar, em tempo real, o desastre que os seres humanos estão provocando nos pulmões do planeta. Os plásticos são a maior ameaça à vida marinha. A seguir, os principais pontos da entrevista de João Amaral ao Correio.
Que lições podemos tirar da recente Conferência dos Oceanos, que ocorreu em Portugal?
Acho que a primeira lição é a necessidade de a gente ter que tomar ações imediatas. A contagem do tempo que se leva para que compromissos sejam atingidos, o count action, que foi muito explorado na Conferência, se encaixa nisso. Quando olhamos para a Voz dos Oceanos, que é o nosso caso, temos trabalhado nos últimos 40 anos, e ficamos muito felizes em participar desse movimento. Ver que, além de nós, existe uma grande quantidade de iniciativas nesse sentido, especialmente uma movimentação de países preocupados com temas dos oceanos.
Então, a primeira lição é que precisamos agir, nos unir. Olhando para o Brasil, também fica claro uma união de forças dentro dos projetos que estão mirando assuntos de economia do mar e o tema dos oceanos. Existe uma necessidade de ainda mais união de forças entre o poder público e a iniciativa privada. Obviamente, há também uma necessidade de a gente perceber que os assuntos da economia azul são estratégicos, com uma série de desafios, mas que também trazem oportunidades. A referência final que a Conferência nos deixa é a necessidade de ação. Temos muitos desafios, sim, mas também muitas oportunidades.
No comunicado de Lisboa, o ano de 2022 foi definido como o superano dos oceanos. Por quê?
Creio que está sendo emblemático sairmos de dois anos de pandemia. Percebemos como o mundo está completamente interconectado. E quando digo isso não estou falando apenas de tecnologia e inovação. Estou falando muito mais dos temas de sustentabilidade e de um só planeta. Quando a gente percebe que uma pandemia começou num determinado local e se expandiu globalmente muito rapidamente, ao olharmos para os oceanos, temos a mesma analogia. Não temos barreiras, é um só oceano. Temos, sim, regiões oceânicas: oceanos Índico, Pacífico, Atlântico.
Mas tudo está absolutamente interconectado. Então, 2022 acaba sendo emblemático por conta dessa conjunção de fatores. Mais: se temos um planeta em que três quartos são compostos pelos oceanos, pelas águas, precisamos olhar para essa situação que estamos vendo da poluição de uma forma geral, a questão dos plásticos, da degradação e da falta de conservação dos oceanos. Afinal de contas, estamos falando do grande pulmão do mundo. Fala-se das árvores, obviamente de toda a biosfera, do verde, mas pouco ainda se fala da importância de se olhar para a economia azul. É saudável pegar o ano de 2022, ter tido uma conferência que chamou a atenção do tema dos oceanos e uma presença maciça, como foi em Lisboa, que se tornou um grande ponto de referência sobre esse tema.
O que é a economia azul e como podemos tirar vantagem dela?
O primeiro entendimento da economia azul é a consciência. Nos últimos 25 anos, muito se falou da economia verde, da exploração das florestas, da preservação delas. Se pegarmos a movimentação de cargas globalmente, esmagadoramente ela é feita por navios. Cerca de 90% das cargas são transportadas por navios, ou seja, por oceanos. Os 10% restantes são por avião ou outros modais. Se temos a dependência, num olhar positivo, da movimentação global de cargas via oceanos, temos uma oportunidade gigantesca de atacar setores marítimos, de transporte, portuário, de infraestrutura, aquacultura, alimentação. Não nos esqueçamos de que a economia azul também olha para a alimentação de todos nós. A economia azul acaba sendo uma força motora gigantesca. Com isso, pode-se imaginar a quantidade de recursos que é movimentada.
É preciso destacar, ainda, que há muita coisa por se descobrir. Percebemos isso, inclusive, na área científica da Voz dos Oceanos, que tem muita coisa por vir. Há uma janela de oportunidades para novas tecnologias, inovação. A gente tem ouvido muito sobre crédito de carbono, da captura de carbono pelas florestas. Mas pouco ou nada se fala da captura de carbono pelas algas, enfim, da fauna que tem dentro dos oceanos. A economia azul é um olhar e um comportamento sobre essas oportunidades que os oceanos dão, historicamente, para toda a nossa sociedade. Mas que, se tivermos um olhar diferente, podemos ter a economia azul desenvolvida e fomentada de uma forma sustentada. O que quer dizer isso? Vamos explorar, mas sem acabar.
Nesse contexto, a pesca predatória é uma ameaça grande…
Sim, a pesca predatória, a não preservação da saúde dos oceanos, o acúmulo de lixo despejado a cada minuto. Se pegarmos um dado que foi amplamente divulgado por ocasião da Conferência, temos 8 bilhões de toneladas de plástico sendo despejadas anualmente nos oceanos. Se nada for feito, em 2050 teremos mais plástico, mais resíduos do que peixes nos oceanos. Por isso, a economia azul tem de ser olhada com um viés muito positivo de desenvolvimento, mas sem exploração ou extinção daquilo que a gente busca, porque, senão, a gente vai ter uma situação em que o nosso planeta realmente estará em risco.
Como o Brasil está engajado nesse projeto? Mesmo tendo um litoral tão amplo, a percepção é de que o país não está tão alinhado na defesa dos oceanos. Por quê?
Tenho um viés positivo sempre. Acho que há muito a ser feito, que o Brasil realmente pode e deve ter participação e mais protagonismo nos temas da economia azul. Nós temos uma área costeira gigantesca. Então, pela nossa presença em termos de território e sobre tudo o que está sendo feito, sim, a nossa presença pode ser muito mais contundente, muito mais forte.
Mas, de novo: para que isso aconteça, precisa haver uma junção de forças entre a iniciativa pública e a iniciativa privada. Percebemos muito na nossa primeira etapa, desde que saímos de Balneário Camboriú (a missão da família Schurmann), em agosto do ano passado, e passamos por várias cidades brasileiras, muitas delas litorâneas, que já há uma consciência, um movimento. Vimos uma série de cidades bem engajadas, como Rio de Janeiro, Recife, Salvador, Belém, que estão trabalhando.
Mas há muito ainda a ser feito. E, de novo, na hora em que a gente coloca isso como uma estratégia, inclusive no poder público, um conceito que é a literacia dos temas do oceano, fica claro que a gente precisa formar a base, formar professores, alunos, pois as pessoas ainda não têm a consciência de que há uma necessidade de preservar o oceano para poder explorá-lo sustentavelmente. Por isso, acho que ainda há muito a ser feito.
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O país está atrasado no desenvolvimento de políticas de preservação dos oceanos?
Não sei se atrasado é a palavra, contudo, creio que possamos realmente ter uma movimentação um pouco mais estratégica. A gente percebe quando vai a Portugal, por exemplo, e, aí, olhando para a Europa — uma das estratégias da Voz dos Oceanos, neste momento, é justamente a internacionalização das suas atividades —, que há países mais adiantados em relação a esse tema. Essa foi uma das razões de escolhermos Portugal como base para montar uma operação das rotas fora do Brasil, justamente porque o país tem uma série de estratégias, uma união de forças no setor acadêmico, uma união de forças entre fundações privadas que fomentam estudos sobre a economia do mar.
Há políticas de governo. Nos Açores, tem um programa de preservação de 30% do território marinho. É quase a criação de um pulmão, um respiro na região, que, obviamente, é muito positivo para Portugal como país, mas é estratégico para a União Europeia também. Então, percebe-se que o Brasil, para poder dar um passo substancial à frente, precisa olhar isso como política de governo.
Como dar esses passos?
Primeiro, por meio da movimentação dos estados, que é muito importante. A gente viu, na Conferência dos Oceanos, uma delegação do Ceará bastante relevante. Também teve uma delegação do Rio de Janeiro muito expressiva. Agora, precisamos ter essa movimentação, também, dos demais estados. Quanto mais a gente traz essa consciência, e esse é um dos grandes objetivos da Voz dos Oceanos, maior é o engajamento para as próximas conferências. Queremos uma participação maior de estados, de prefeituras e do governo federal.
Como trazer a população para dentro desse processo?
Esse é um grande desafio, porque, no caso das pessoas que moram na costa litorânea, a realidade do oceano, da praia, de preservação, de não jogar o lixo, ter um descarte mais adequado, é algo mais próximo. Agora, quem não está ali, não vive essa realidade, muitas vezes, tem dificuldade de pensar. E se perguntam: por que isso faz parte da minha vida, por que deveria fazer parte da minha vida? Não vou à praia, não estou na cidade litorânea, não vejo. É aí que entra o trabalho de conscientização, de educação, justamente para que as pessoas possam, cada vez mais, ter a percepção de que pouco importa onde você está, seja no sertão, seja na Amazônia, seja na África, seja em São Paulo, seja em qualquer lugar, justamente porque há uma consciência da interdependência.
De novo, fazendo uma reflexão com o que aconteceu na pandemia, a gente percebeu que um problema que nasce num determinado país e chega ao outro pelo ar, a mesma coisa vai acontecer em relação ao oceano. Ou seja, o ar que respiramos, a comida que a gente come, os trabalhos são desenvolvidos a partir do oceano. Por isso, é um trabalho de conscientização, de educação. Passa por escolas públicas, escolas privadas, universidades e pela sociedade de uma forma geral. Esse é um dos principais pilares: trazer a sociedade e o cidadão comum a bordo da nossa iniciativa, para que a importância da preservação dos oceanos também possa reverberar dentro de casa, em todos os locais.
Quando o senhor fala em parceria entre o poder público e a iniciativa privada, como isso se daria? No Brasil, por exemplo, fala-se em privatização de praias e do uso do mar para a geração de energia elétrica, ponto em que Portugal está bastante avançado. Isso ajudaria na preservação dos oceanos ou seria uma exploração predatória?
O poder público tem um papel muito importante no estabelecimento de políticas para a sociedade. Imagine, por exemplo, se uma determinada localidade ou município resolve dizer que não vai mais permitir o uso de plástico naquela região. Aquilo vai ter um efeito que, num primeiro momento, pode ser mais difícil de implementar, mas, naturalmente, quando se lança um desafio, na outra ponta, criar-se oportunidade para novas matérias-primas serem desenvolvidas. Há uma necessidade de substituição do plástico de uso único por outro tipo de material.
Não nos esqueçamos de que, há 50 anos, não tínhamos essa invasão, porque não havia essa quantidade de produtos de plástico de uso único à nossa disposição. Também podemos pegar um pouco dos exemplos que sempre estiveram na sociedade e pensar: será que eu preciso dessa quantidade de produtos de plástico quando eu vou fazer uma determinada compra, usar uma sacola dita descartável, uma garrafinha plástica para poder acondicionar um determinado líquido ou uma determinada comida que eu vou consumir ali durante 20, 30 segundos, depois não tem mais necessidade daquela embalagem? Será que eu preciso transportar uma comida que eu compro no mercado embalada em plástico, já que o próprio alimento vem da natureza embalado de própria casca? É uma necessidade e uma reflexão.
A gente percebeu muito isso nas cidades em que estivemos presentes, há muitos bons exemplos. Balneário Camboriú tem um programa belíssimo de conscientização. Recife também lançou uma iniciativa. São medidas que necessitam de uma estratégia para ser colocadas em prática e, obviamente, isso vai gerar a união de forças entre o poder público e a iniciativa privada. Não acredito que jogar essa responsabilidade nas costas da iniciativa privada seja a solução. Também não acredito que é só um problema do governo, que não temos nada com isso. Todos têm responsabilidades. É uma mudança de mentalidade.
O problema é que, quando se trata de governo, a ideologia sempre atrapalha...
O momento é de união, de armistício. Se existe uma diferença entre um pensamento ou outro, aqui a gente tem de convergir os interesses, porque é uma só Terra, é um só oceano, é a preservação do espaço que nos foi dado, para que nossos filhos, os filhos das próximas gerações possam usufruir de uma forma sustentável e perene tudo o que temos hoje à nossa disposição.
Quais são os países que estão liderando os projetos de proteção dos oceanos?
Vemos um pioneirismo na Comunidade Europeia, sobretudo entre os países nórdicos. Temos Finlândia, Dinamarca, Noruega. A própria Alemanha também está muito avançada. O Canadá está mais preocupado. Os Estados Unidos ainda têm muito a fazer, mas há regiões daquele país com laboratórios de inovações. A China também tem se mostrado. Se a China faz uma transformação, há um impacto gigantesco, até pela população bastante expressiva.
Ou seja, em todas as regiões é possível ver movimentações. Houve, no primeiro semestre do ano, a assinatura do tratado dos plásticos pelos países signatários da ONU. Precisamos, agora, usar a Conferência dos Oceanos como uma mola propulsora de ação. No entanto, não podemos ficar no campo da discussão e muito menos no campo da discussão política. Acho que a ONU tem feito um trabalho maravilhoso, tem uma série de iniciativas, mas eu creio que esse contato, que a própria ONU está colocando, tem de acontecer, é uma responsabilidade de todos. Isso implica, inclusive, levar ao conhecimento das pessoas o que está acontecendo, deixar todo mundo conectado com o tema.
Qual é o papel de ONGs, como a Voz dos Oceanos, dentro desse processo?
A nossa iniciativa tem hoje quatro pilares fundamentais. A Voz dos Oceanos nasceu de uma reflexão da família Schurmann, a partir do testemunho dos quase 40 anos trabalhando, vivendo no mar. Na volta da última expedição, perguntou-se qual legado que a família gostaria de deixar para a sociedade. Fazendo um comparativo para que não acontecesse com a família o que se viu com os projetos de Jacques Cousteau.
Quando ele faleceu, não houve nenhuma continuidade, pelo menos da forma como a gente entende que poderia ter sido feito. E aí essa reflexão sobre qual o problema mais grave visto nos últimos anos, que merece uma atenção. Foi justamente a questão da poluição dos oceanos e a questão dos plásticos. A Voz dos Oceanos é um chamamento. No primeiro pilar, se os seres humanos desejam mudar o modo como lida com os plásticos, têm de trabalhar a questão da educação.
Depois, tem o pilar científico, que passa pelo veleiro Kat, que vai rodar aproximadamente 65 países na primeira etapa, de dois anos. Um testemunho científico de como está a qualidade do nosso oceano, qual é o nível de contaminação por plástico e microplásticos. Fizemos um acordo de cooperação com a Universidade de São Paulo (USP), com o professor Alexandre Turra, que é o responsável por todo esse estudo. A gente faz um monitoramento, compra ostras, mexilhões e tudo o que nós comemos, para saber qual é o grau de contaminação desses animais e, obviamente, qual é o grau de contaminação nos seres humanos, a partir do momento em que a gente ingere esse tipo de alimento.
Então, o objetivo do pilar científico é ter essa radiografia com base em dados e com base científica de como está a contaminação por microplásticos. O terceiro e muito importante pilar é justamente fomentar a busca por soluções e produtos inovadores que possam substituir o plástico nas mais diversas formas.
Temos, ainda, a expedição em si como instrumento de comunicação. E um quinto e mais recente pilar que surgiu para nós foi o da arte. E essa provocação foi muito interessante porque a gente achou que isso aconteceria um pouco mais à frente, mas acabou se antecipando. Nós não queremos e não podemos correr o risco de sermos vistos como os ecochatos. Percebemos que uma forma de comunicar a nossa voz e os nossos objetivos e iniciativas era utilizar as exposições, a música, a fotografia, ou seja, o pilar arte efetivamente. Isso começou em Miami, onde teve uma exposição de arte vinculada ao tema dos oceanos. Em Nova York, a coisa tomou mais força ainda.
Como está o processo de internacionalização da Voz dos Oceanos?
A família Schurmann é muito conhecida no Brasil. São 40 anos de trabalho. Construiu-se um legado. Mas isso hoje está ainda muito regionalizado no mercado brasileiro. Mas, se nós somos uma iniciativa brasileira para o mundo, é preciso que se construa esse novo momento internacionalmente. Passamos oito meses na costa brasileira, começamos nossa trajetória em águas internacionais pelo Caribe. Quando a gente olhou para o mapa da rota e vimos os Estados Unidos, pensamos que o mercado norte-americano era extremamente estratégico.
Então, vamos ficar por cinco meses em águas norte-americanas. A gente sabe que é um mercado rico em todos os sentidos, que, se a gente consegue se estruturar de forma adequada, tem um alcance. Ao mesmo tempo, fizemos um processo seletivo para a Conferência do Oceanos e, à medida que fomos conhecendo cada vez mais o mercado português, entendemos que usar Portugal como porta de entrada para o mercado europeu, onde estão 500 milhões de consumidores, era extremamente relevante também.
Foi aí que fizemos essa estratégia de internacionalização, entendendo Portugal como porta de entrada para a Europa, pelo posicionamento muito positivo do país nos temas da economia azul, e olhando para o mercado norte-americano. O objetivo é que Voz dos Oceanos, que começou com uma família brasileira, se torne um projeto global.