Em três semanas de coleta de dados, aproximadamente 41 milhões de pessoas responderam ao questionário do Censo Demográfico 2022 no país, o equivalente a 19% da população brasileira. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), já foram visitados pouco mais de 18 milhões de domicílios e a expectativa é que toda a população seja entrevistada até 31 de outubro.
De acordo com o Instituto, até o momento o trabalho está correndo como o previsto. "Estamos percorrendo todo o país, mas fazer um censo é sempre um grande desafio. Desde semana passada, iniciamos a coleta dos povos indígenas, e nesta semana iniciamos as comunidades quilombolas, população recenseada pela primeira vez a partir desse Censo", informou o IBGE em nota.
Serão recenseados os indígenas residentes dentro ou fora de suas terras, em áreas urbanas ou rurais, além dos provenientes de outros países. Todas as comunidades e aldeias, independentemente de terem sido ou não previamente mapeadas, vão ser visitadas. A primeira etapa é explicar o Censo Demográfico para as lideranças indígenas e sensibilizá-las para permitir a entrada dos recenseadores nas aldeias.
Segundo o IBGE, o Censo Demográfico 2010 foi a primeira pesquisa que registrou a quantidade de etnias e de línguas indígenas existentes no Brasil. Foram contados 896,9 mil indígenas de 305 etnias ou povos e falantes de 274 línguas. A segunda etapa, neste ano, é a aplicação de um questionário sobre a aldeia ou a comunidade, com perguntas sobre a infraestrutura, o acesso aos recursos naturais, à educação, à saúde, hábitos e práticas. Em seguida, os recenseadores vão visitar todas as habitações para fazer as entrevistas com as famílias residentes.
Os cidadãos estão respondendo ao questionário de forma presencial, por telefone ou pela internet. Esta é a primeira vez que é oferecida a possibilidade de participação no Censo por telefone; na última operação, já havia a opção de participação pela internet. No entanto, só é possível responder de forma remota, após visita do recenseador ao domicílio, mediante um ticket eletrônico.
O IBGE afirmou estar enfrentando alguns empecilhos, como a falta de entendimento da pesquisa, levando a resistência em responder. Além disso, há também dificuldade para encontrar os moradores e acessar condomínios, o deslocamento em áreas perigosas ou de difícil acesso e a veiculação de notícias falsas.
Evillyn Alves, de 20 anos, é agente censitário municipal do IBGE em Ibiara-PB, cidade com cerca de 5 mil habitantes. Ela contou que muitas pessoas desconhecem a relevância da pesquisa para o país devido à falta de divulgação. "Vejo que a pesquisa não é bem divulgada como deveria ser, porque é muito relevante para a população brasileira. A divulgação não é efetiva. Os brasileiros não sabem a importância do Censo e não levam a sério como deveriam, infelizmente", lamentou.
Segundo ela, as pessoas questionam muito o seu trabalho. "Acham que as pesquisas têm vínculo com outros órgãos. Pensam que suas informações serão publicadas de alguma forma e ficam receosas por conta disso. Mas, muito pelo contrário, o processo é totalmente sigiloso e é essencial para a formulação de políticas públicas nos próximos 10 anos, porém pouca gente sabe disso. Quando explicamos a importância, para o que serve, como funciona, conseguimos realizar uma entrevista com mais qualidade", disse.
Ameaças
Apesar de estarem sendo tratados como casos isolados, os recenseadores têm relatado diariamente que estão sofrendo com assédio verbal e ameaças durante as abordagens para as entrevistas. Pesquisadores afirmaram também que muitas pessoas sentem medo de divulgar informações pessoais, e a recusa em abrir a porta não é incomum. Além disso, perguntas referentes à renda da residência e de dados pessoais, como CPF, assustam alguns.
Um agente de Goiânia, que preferiu não se identificar, contou que, em 29 de julho, um dia antes do início da coleta dos dados, foi fazer o reconhecimento do local e levar um aviso prévio para os moradores, mas ficou amedrontado com a forma em que foi recebido. "Quando entreguei este aviso para um morador, que era agente de segurança pública, fui ameaçado. Ele mostrou a identidade profissional e disse que ia pegar uma arma de fogo. Tive que deixar o aviso no portão dele e deixar o local às pressas."
Em um grupo de WhatsApp com 257 agentes de todo o país, são contínuas as reclamações sobre violência, dificuldade para encontrar as pessoas em casa e a má remuneração. A grande maioria dos recenseadores que passaram por esses episódios prefere não revelar a identidade com medo de represálias do Instituto. "Fui em uma casa hoje às 16 horas e a mulher saiu como uma onça, porque eu tinha acordado ela", reclamou uma recenseadora do Ceará na noite de ontem.
* Estagiário sob a supervisão de Odail Figueiredo