São Paulo – A poucos dias do início da campanha eleitoral deste ano, mesmo em um palco onde o ministro da Economia, Paulo Guedes, é quase um pop star, a feira Expert XP 2022, o atual governo e o seu principal rival continuam evitando debates sobre suas respectivas propostas econômicas.
“O atual governo gosta de fazer palestras sem debate”, criticou, nesta quinta-feira (4/8), a economista e advogada Elena Landau, ex-diretora do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), coordenadora do programa econômico da candidata à Presidência Simone Tebet (MDB), logo no início do painel “Desafios do presente e do futuro: Debate sobre os caminhos da economia brasileira”, na feira organizada pela XP Investimentos, em São Paulo.
A ideia dos organizadores do evento da XP era colocar os responsáveis pelas propostas econômicas dos quatro candidatos mais bem colocados na corrida presidencial. Os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) não enviaram representantes. Participaram do debate apenas Elena Landau e o economista e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) Nelson Marconi, que integra o time econômico do ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT).
Saiba Mais
Teto de gastos
Elena Landau não poupou críticas ao ministro da Economia, que na palestra de ontem minimizou os riscos fiscais e até admitiu que furou o teto de gastos na pandemia e agora apresentou o pacote de R$ 41,2 bilhões de medidas eleitoreiras, ampliando benefícios e criando subsídios que dificilmente devem ser retirados e tendem a piorar as contas públicas.
Segundo ela, o atual governo poderia ter aprovado as reformas que quisesse, porque estava com o Congresso nas mãos, mas acabou parando na Reforma da Previdência, e, para piorar, ainda retrocedeu na questão fiscal para patamares semelhantes ao do fim do governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Além disso, lembrou a economista, o governo não não fez os cortes de despesas necessários e, como o governo Dilma, deixa o país com uma taxa de crescimento ridícula.
Na avaliação da economista, um dos maiores erros do atual governo em curso nessa questão fiscal é a antecipação de royalties do petróleo de estatais, porque, segundo ela, vai comprometer o futuro do país por não estar combatendo os problemas que estão fazendo a inflação subir e se espalhar na economia. “O governo parece que gosta de imposto inflacionário, porque ele facilita quem não gosta de fazer ajuste fiscal e esse é um problema parecido com o da gestão de Sérgio Cabral (ex-governador do Rio de Janeiro)”, frisou.
Landau também criticou o fato de o ministro da Economia, na palestra de ontem, minimizar o aumento dos riscos fiscais por conta das medidas aprovadas pela PEC Eleitoreira, ou Kamikaze, que Guedes costumava falar, e que só agravam o quadro das contas públicas, e ainda admitir que estourou o teto de gastos. Ela demonstrou indignação com o fato de a plateia achar que é normal um país com inflação de dois dígitos, juros básicos indo para 14% ao ano e riscos fiscais aumentando, uma vez que já demonstrou bastante insatisfação durante o governo Dilma com esse mesmo cenário.
Nelson Marconi, por sua vez, criticou a ausência dos representantes de Lula e de Bolsonaro. “Isso não é democrático, nem republicano”, disse. Ele também reconheceu que a questão fiscal precisa ser debatida durante a campanha eleitoral. “A questão fiscal é essencial para o governo e para o país, porque sem equilíbrio fiscal, o Brasil não recupera a capacidade de investimento”, acrescentou.
Na avaliação do professor da FGV, a regra do teto de gastos foi pouco realista desde a sua implementação. “O teto está no chão”, afirmou ele, citando algumas medidas na proposta econômica para o controle de gastos, como corte de 20% dos incentivos fiscais e a volta de imposto sobre lucros e dividendos, além de cortes nas despesas correntes. “É preciso fazer um Orçamento de base zero”, disse.
Elena Landau destacou ainda que o equilíbrio das contas públicas é mais importante para investimentos na área social, para o combate à desigualdade. “Infraestrutra não tem problema de investimento. Há 14 mil obras paradas, porque o problema é a falta de projeto básico e governança”, sintetizou. Para ela, é preciso resgatar a agenda ambiental, que foi abandonada no atual governo pois, sem um plano econômico que também se preocupe com o meio ambiente, não será possível o país atrair novos investimentos.
A economista também ironizou as promessas não cumpridas por Guedes, que prometeu arrecadar R$ 1 trilhão, e, agora, fala em R$ 3 trilhões. “Não sei como ainda acreditam nisso”, disse. Ela ainda criticou o fato de o governo não ter conseguido fazer reformas e ainda deixou o Congresso fazer o que quiser com o orçamento secreto – emendas do relator geral do Orçamento que são moeda de troca entre o governo e o Legislativo e não têm transparência na forma de distribuição.
*A jornalista viajou a convite da XP Investimentos