Apesar das comemorações de integrantes do governo Jair Bolsonaro (PL) com a queda da inflação no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em junho e a sinalização de uma nova queda em agosto por conta da queda de 0,73% na prévia deste mês, devido à desoneração dos combustíveis, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, demonstrou cautela para o afrouxamento da política monetária.
“A gente acha que não pode baixar a guarda. A gente comemora, obviamente, um número de inflação mais baixo, mas sempre qualificando que tem um passo grande nesse último número recente, porque tem um componente de (inflação) de alimentos bastante acima do que está a gente esperava”, disse Campos Neto, nesta sexta-feira (26/8), em apresentação em evento da gestora 1618 Investimentos, em São Paulo.
“A inflação está desacelerando, mas é preciso olhar com bastante cautela. Mas entendemos que o Brasil se adiantou nesse processo e de uma forma agressiva”, acrescentou ele citando o fato de o país ter sido um dos primeiros a iniciar o processo de aumento dos juros, ainda em 2021, enquanto países desenvolvidos, como os Estados Unidos, só iniciaram esse processo recentemente, e, segundo ele, a inflação por lá está mais resistente do que no Brasil para iniciar um processo de desaceleração. Contudo, ele reforçou que o BC brasileiro continuará “vigilante em sua tarefa”.
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Após registrar queda de 0,68% em julho, o IPCA acumulou alta de 10,07% em 12 meses, abaixo dos 11,89% contabilizados no mesmo período até maio. Na reunião dos dias 2 e 3 deste mês, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa básica da economia (Selic) em 0,50 ponto percentual, de 13,25% para 13,75% ao ano, e ainda sinalizou um novo aumento, de menor magnitude, na reunião de setembro.
Pelas previsões do mercado, a inflação desacelera neste ano, mas não o suficiente para convergir para a banda superior da meta, cujo teto é 5%. As novas projeções do mercado para o IPCA no fim do ano variam entre altas de 6,5% e 7%. Além disso, vem ganhando força no ano que vem, e continuam acima do teto da meta determinado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 4,75%.
Não à toa, analistas do mercado consideram que o BC abandonou as metas deste ano e do próximo e passou a focar apenas a de 2024. Com isso, ainda há dúvidas entre analistas se haverá um aumento de 0,25 ponto percentual para 14% anuais ou se o BC manterá a Selic em 13,75%, maior patamar desde dezembro de 2016, na próxima reunião do Copom, prevista para os dias 20 e 21 de setembro.
PIB
Durante a palestra, Campos Neto voltou a fazer uma análise positiva da recuperação da economia brasileira neste ano, destacando as revisões para cima das estimativas do mercado para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, mas evitou comentar sobre o processo de desaceleração que está em curso partir da segunda metade deste ano e que vai culminar em 2023, refletindo o impacto negativo da política monetária — que tem um efeito retardado a partir dos aumentos das taxas de juros, que ocorrem desde março de 2021, quando a Selic estava no piso histórico de 2% ao ano. Atualmente, as estimativas do mercado preveem alta de 2,02% no PIB deste ano, passando para 0,39%, no ano que em.
Na sequência, durante as perguntas, o presidente do BC reconheceu que há um movimento de revisões do crescimento do PIB no ano que vem para baixo, porque o impacto da alta de juros pode demorar até 18 meses para impactar na atividade economica. Ele ainda alertou que o processo de desaceleração global, que está em curso, “também tem influência no mercado brasileiro”.
O presidente do BC também voltou a falar das oportunidades para o Brasil, nesse contexto global de transição energética, para o desenvolvimento de energia sustentável, inclusive, exportando para outros países esse potencial. “O mundo precisa de insumos que tenham energia e mão-de-obra baratas. E o Brasil tem capacidade para produzir energia sustentável”, frisou.
Criptomoedas
Ao ser questionado sobre a regulamentação do mercado de criptomoedas, Campos Neto, foi vago e disse que houve evolução nesse mercado, especialmente, no sentido de fazer a mineração com menos energia. Ele evitou falar em criptomoedas, mas, sim, em criptoativos, e afirmou que é possível coexistências das modalidades digitais.
“Eu foco mais no processo do blockchain de pegar algo com valor e fazer liquidações múltiplas”, disse, evitando comentar sobre um determinado ativo. “Eu não aposto na moeda e sim na tecnologia e na coexistência (dos modelos)”, disse, sem falar sobre como o processo de regulamentação desse mercado, onde muitas moedas perderam valor substancialmente, provocando prejuízos para os investidores que ainda não sabem escolher direito e, muito menos, fugir dos esquemas de pirâmides. “Não é o Banco Central que deve dizer que moeda as pessoas devem comprar. As pessoas precisam saber o que elas estão comprando”, afirmou.
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