Conjuntura

Crise entre China e Taiwan: como o conflito pode afetar a economia brasileira?

Especialista comenta a forte dependência das indústrias brasileiras de produtos advindos da região asiática

Correio Braziliense
postado em 16/08/2022 15:26
 (crédito: SAM YEH)
(crédito: SAM YEH)

Os conflitos entre os vizinhos Rússia e Ucrânia têm se intensificado desde o início das invasões russas em fevereiro deste ano. As hostilidades entre os dois países trouxeram grandes impactos para o mercado brasileiro, resultando em crise no valor de combustíveis e impactos para o setor agrícola — além de causar a falta de alimentos em algumas partes do mundo e trazer riscos de uma crise energética na Europa.

No entanto, outro conflito de proporções econômicas potencialmente ainda mais catastróficas pode estar em vias de dar seus primeiros passos. A recente visita a Taiwan da presidente da Câmara de Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, no dia 2 de agosto, levantou a ira do governo chinês, que entende o encontro como uma afronta à soberania do país na região.

Como resultado, mísseis foram lançados sobre a ilha autônoma, e uma rigorosa sanção econômica foi imposta — com a suspensão de importação de itens como frutas e produtos de pesca.

“Um conflito armado entre as duas nações asiáticas pode causar uma crise econômica sem proporções desde a Segunda Guerra Mundial”, explica Helmuth Hofstatter, CEO e founder da Logcomex, empresa de soluções para comércio exterior. “A indústria chinesa tem forte presença na economia mundial, e as rotas marítimas entre a China e Taiwan é uma das mais movimentadas do mundo.”

Para o Brasil, os impactos seriam de grandes proporções dada a forte dependência da indústria brasileira de produtos importados dessa região, principalmente semicondutores. No primeiro semestre de 2022, o país importou mais de US$ 1 bilhão, cerca de R$ 5 bilhões de Taiwan — um crescimento de 5% em comparação ao mesmo período do ano anterior.

“Os produtos mais importados dessa região são os semicondutores, chips e processadores, que somam 30% de toda a chegada desse tipo de produto no país. Das importações de Taiwan, 50% foram semicondutores, processadores e componentes eletrônicos”, pontua o executivo da LogComex.

As mercadorias são em larga escala encaminhadas para empresas do ramo automotivo, eletroeletrônicos, eletrodomésticos e informática. “Havendo uma interrupção no suprimento desses processadores e controladores, essas indústrias brasileiras precisarão buscar novos países para realizar o abastecimento de estoque. Nesse trâmite, a quebra da cadeia de suprimentos afetará diretamente a oferta destes produtos, podendo ocasionar uma alta nos preços de bens duráveis”, completa.

Quais regiões seriam as mais afetadas no Brasil?

A partir de uma análise de dados de importação fornecidos pela LogComex, observa-se que o estado de São Paulo é responsável por cerca de 37% de todas as importações brasileiras vindas de Taiwan, sendo a localidade mais afetada economicamente por uma eventual variação de preços.

O estado do Amazonas — por abrigar as principais indústrias de eletroeletrônica do Brasil — está em segundo lugar, com 30% das importações brasileiras advindas da ilha asiática; e Santa Catarina ocupa o terceiro lugar, sendo responsável por 13% desses negócios.

“Se avaliarmos os 779 mil embarques realizados no primeiro semestre do ano, 45% passaram por rotas que seriam diretamente afetadas caso uma guerra entre China e Taiwan se iniciasse”, finaliza Hofstatter. “Avaliando as atividades militares dos últimos 10 dias, existem grandes chances de os portos da região serem fechados e toda a cadeia de suprimento mundial ser diretamente impactada.”

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação