conjuntura

Inflação e juros altos fazem vendas do comércio varejista recuarem

Vendas do comércio varejista têm o segundo mês consecutivo de queda e recuam 1,4% em junho, segundo o IBGE

Fernanda Strickland
postado em 11/08/2022 06:00
 (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
(crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

As vendas no comércio varejista no país recuaram 1,4% na passagem de maio para junho, no pior resultado em seis meses. Foi a segunda variação negativa consecutiva do setor, que, em maio, já havia mostrado retração de 0,4%. Os dados são da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgada, ontem, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O levantamento de junho traz a maior variação negativa para o comércio desde dezembro do ano passado, quando a queda foi de 2,9%. No primeiro semestre do ano, ainda há uma alta acumulada de 1,4% frente ao mesmo período de 2021. No acumulado em 12 meses, porém, o resultado, que era negativo em 0,4% até maio, aprofundou a queda para 0,9%. queda consecutiva de dois Neste último indicador, uma queda consecutiva de dois meses não acontecia desde agosto de 2017.

ECO-Varejo
ECO-Varejo (foto: Arte de Valdo Virgo)

De acordo com o gerente da pesquisa, Cristiano Santos, o desempenho das vendas foi impactado negativamente pela inflação e pelo crédito mais restrito e mais caro, em função da elevação das taxas de juros. "A (pressão da) inflação foi mais forte nas empresas do comércio varejista em junho do que em maio", disse Santos. "A inflação estava bastante pronunciada para algumas atividades, como combustíveis e lubrificantes e supermercados", explicou.

Segundo ele, elementos que puxaram o crescimento das vendas do varejo nos primeiros quatro meses do ano, como o crescimento da população ocupada no mercado de trabalho e a liberação de recursos extras pelo governo (como saques extraordinários do FGTS e antecipação de 13º salário a beneficiários do INSS), não foram suficientes para sustentar um aumento no consumo de bens pelas famílias também em maio e junho.

"A renda extra liberada pelo governo ajudou o crescimento do varejo até abril", avaliou Santos. "Parte dos recursos foi usada para a redução do endividamento e pagamento de dívidas", completou.

De acordo com os dados da PMC, a retração na comparação com maio foi disseminada por sete das oito atividades investigadas pela pesquisa. Duas delas tiveram maior influência sobre o índice geral do varejo: tecidos, vestuário e calçados, com queda de 5,4%, e hiper e supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, segmento que recuou 0,5% no período.

No indicador de desempenho do comércio varejista ampliado, que inclui veículos, motos, partes e peças e material de construção, o volume de vendas em junho caiu 2,3% ante maio, com destaque para a queda de 4,1% em veículos, motos, partes e peças.

Para o economista Hugo Passos, apesar do resultado negativo no mês de junho, o setor varejista ainda está com desempenho positivo. "O resultado acabou sendo impactado pelo aumento das taxas de juros, agora em torno de 13,5 %, para controlar a inflação", disse. "Com a taxa de juros mais alta, o crédito fica mais caro. Então, as pessoas deixam de consumir. No entanto, quando você olha o acumulado em um semestre o resultado ainda é positivo e quando você olha para o período pré-pandemia, está um pouco acima."

Conforme os números da pesquisa, o volume de vendas do varejo chegou a junho em patamar 1,6% acima do nível de fevereiro de 2020, no pré-pandemia. No varejo ampliado, as vendas operam 3% abaixo do pré-pandemia. Apenas os segmentos de artigos farmacêuticos (24,5%), material de construção (5,2%) e supermercados (2,3%) estão operando acima do patamar pré-crise sanitária.

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