Em reunião ordinária, ontem, o Conselho Nacional de Saúde (CNS) debateu maneiras de enfrentar o desabastecimento de medicamentos que afeta prefeituras, hospitais públicos e também a rede privada de saúde, que têm enfrentado a falta de remédios como dipirona, antibióticos, soro e diuréticos. A implementação de um complexo econômico e industrial foi apontada como alternativa para resolver o problema, a exemplo das indústrias de base química, biotecnológica, mecânica e de materiais.
"Temos que colocar a saúde e sua base econômica, produtiva e tecnológica como grande aposta para o Brasil superar a dependência gritante que temos do mercado externo", avaliou o pesquisador do Departamento de Administração e Planejamento em Saúde da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz (Daps/Ensp), Carlos Gadelha, que conduziu a reunião.
A proposta do CNS pode garantir autonomia ao país na área de medicamentos, mas é uma solução de longo prazo para um problema urgente. "Quase 95% dos medicamentos no país dependem de matéria-prima originária principalmente da China, que teve as exportações afetadas porque está mais uma vez em lockdown para conter a nova onda de casos de covid", observou o CEO da Associação Brasileira das Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), Sérgio Mena Barreto.
Levantamento recente da Confederação Nacional de Municípios (CNM), feito com 2.469 prefeituras, constatou que mais de 80% dos gestores relataram sofrer com a falta de remédios para atender a população. Segundo o médico sanitarista Gonzalo Vecina, fundador da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), há falta de capacidade do Ministério da Saúde de gerenciar os estoques e distribuir os produtos a tempo. "O departamento de logística faz qualquer coisa, menos logística. Então, além de perdas deve haver extravios , que não estão sendo noticiados", afirmou. (RG)