Apesar de registrar alta em maio pelo quarto mês consecutivo, a produção industrial ainda não conseguiu retomar o patamar pré-pandemia, de fevereiro de 2020. Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a indústria nacional cresceu 0,3% em maio, na comparação com o mês anterior. O resultado ficou abaixo da alta esperada pelo mercado — entre 0,6% e 0,7%. No acumulado do ano, o setor registra recuo de 2,6% e, em 12 meses, de 1,9%.
Os números mostram, ainda, que o setor industrial se encontra 1,1% abaixo do patamar pré-pandemia, de fevereiro de 2020, e está 17,6% distante do nível recorde alcançado em maio de 2011.
“A indústria não consegue crescer de forma robusta e está andando de lado. E ainda há uma perspectiva de desaceleração no segundo semestre”, destacou Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). “Essa sequência de quatro meses de alta consecutiva é uma boa notícia, porque o setor começou a perder fôlego desde 2014. O problema é que a melhora é muito gradual e não tem robustez suficiente para retomar o patamar pré-pandemia. Nesse ritmo, o setor apenas recuperou o mesmo nível de produção de dezembro de 2021 e, no ano, não foi possível ainda recuperar a queda de janeiro”, lamentou.
De acordo com o IBGE, três das quatro grandes categorias tiveram aumento de produção em maio. Enquanto bens intermediários registraram recuo de 1,3% no mês, bens de capital, bens de consumo duráveis e bens de consumo semi e não duráveis apresentaram avanços de 7,4%, de 3% e de 0,8%, respectivamente.
“Apesar do forte crescimento no setor de bens de capital, o dado desagregado mostra que a produção para a indústria ficou no vermelho de novo”, lamentou Cagnin. O especialista do Iedi lembrou que o impulso da produção de bens de capital tem origem no setor agropecuário, que tem demandado máquinas e equipamentos. Dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores, também divulgados ontem, mostram que a venda de máquinas agrícolas, entre tratores e colheitadeiras, teve crescimento de 11,05% em maio, na comparação com o mesmo mês do ano passado.
Copo meio cheio
Apesar das taxas de crescimento modestas da produção industrial, Natália Cotarelli, economista do Itaú Unibanco, buscou olhar para o copo meio cheio ao analisar a disseminação do crescimento entre os setores pesquisados. “Houve uma melhora no índice de difusão, que passou de 65%, em abril, para 73%, em maio. Esse espalhamento do crescimento da indústria pode ser positivo no segundo trimestre do ano, mas não deve se estender muito no segundo semestre”, afirmou.
Arnaldo Lima, diretor de Estratégias Públicas do Grupo Mongeral Aegon (MAG), ressaltou que o nível da produção industrial continua “relativamente baixo”. “Embora a indústria esteja próxima dos níveis pré-pandemia, ela ainda está abaixo de 2014”, frisou. Ele lembrou que, apesar da queda observada na indústria extrativa, de 5,6%, o crescimento de 0,8% na indústria de transformação foi suficiente para manter o crescimento em 0,3% no mês, com crescimento em 19 das 26 atividades pesquisadas.
“O resultado de maio aponta para um crescimento disseminado, ainda que baixo, influenciado pela conjuntura doméstica e internacional. Embora a indústria já tenha praticamente recuperado os níveis pouco anteriores à pandemia, ainda está bastante abaixo da produção observada alguns anos antes”, afirmou.