Analistas ouvidos pelo Correio alertam que o impacto fiscal provocado pela PEC 1/2022 vai comprometer a missão do Banco Central de cumprir a meta de inflação pelo terceiro ano consecutivo.
Na avaliação de Samuel Pessoa, professor e pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV), com a PEC Kamikaze, o governo está dando benefícios com uma mão e tirando com a outra, porque a inflação sobe e a população perde o poder de compra. "Quem ganhar a eleição vai ter um trabalho duro pela frente. E, por isso, eu tenho um moderado otimismo. A experiência diz que político que produz inflação é punido", frisa.
Para Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, a PEC é "inaceitável". "Isso é um retrocesso gigantesco, não só econômico, como também social. Por conta dessas mazelas, o Plano Real não avança no seu propósito inicial de (estabelecer) uma menor diferença da renda entre os mais abastados e os mais pobres, o que é garantido quando a inflação consegue ficar em um nível civilizado, abaixo de 5%, por um período mais prolongado. Só assim as políticas econômicas conseguirão caminhar em direção para reduzir a desigualdade."
Roberto Padovani, economista-chefe do Banco BV, estima que as consequências fiscais virão à tona em 2023. "Estamos desenhando uma estratégia de política econômica que tende pressionar a dívida pública e a taxa básica da economia (Selic). O resultado dessa expansão fiscal será menos crescimento e juros mais altos", alerta.
O lado positivo, na avaliação de Padovani, é que a volta da hiperinflação não está no debate público, em grande parte, graças à autonomia do Banco Central.(RH)