Em tempos de inflação alta, o investimento em uma microfranquia pode ser uma boa alternativa para complementar a renda. Muitas desses empreendimentos não exigem dedicação em tempo integral, permitem o trabalho remoto, e o empreendedor pode conciliar a gestão do negócio com os afazeres do atual emprego ou de outro negócio que comande. Além disso, podem ser acessíveis a partir de R$ 2 mil.
Modelo de franquia com baixo investimento, a microfranquia tem ganhado cada vez mais espaço, seja em redes puras — que operam apenas com investimentos menores —, seja em redes mistas — com mais de um modelo, como franquias e microfranquias.
Para ser considerado microfranquia, o investimento inicial no negócio deve ser de, no máximo, R$ 105 mil. Levantamento da Associação Brasileira de Franchising (ABF) mostra que o modelo passou de 28,9% de participação no mercado de franquias, em 2020, para 36,9% em 2022.
Segundo a associação, o crescimento se deu por dois motivos: a elevação do teto do que se considera microfranquia no ano passado — antes, o investimento deveria ser de até R$ 90 mil — e o desenvolvimento de modelos mais compactos pelas redes, que passaram a investir em franquias virtuais e nos chamados negócios home-based — sistema em que, diferentemente do home office, o franqueado trabalha em casa, mas com a possibilidade de ter que sair para cuidar do negócio.
"Os modelos sem ponto físico de venda já vinham ganhando espaço no franchising, mas a pandemia deu um impulso ainda maior a eles, com destaque para o home-based, que diminui muito o investimento inicial e proporciona melhor integração com a vida pessoal do franqueado", explica a diretora de Microfranquias da ABF, Adriana Auriemo. "Nessa área, observamos muitas franquias de representação comercial e de prestação de serviços, inclusive digitais", afirma.
Segundo a educadora financeira Aline Soaper, ao fazer um investimento em franquia, é muito importante que a pessoa estude, com antecedência, o modelo de negócio para saber se vai se adaptar a ele. Ela observa que, apesar de comprar um modelo pronto, o franqueado precisará tocar o negócio no dia a dia. "Então, o candidato deve ter boa identificação com a área, para não assumir compromissos e, depois, não ter como tocar o empreendimento" , alerta.
"O segundo ponto é saber se realmente tem a reserva suficiente para fazer o investimento na compra da franquia e para tocar a operação nos primeiros meses. Negócios costumam demorar um certo tempo para trazer retorno financeiro, então, é importante ter capital de giro", explica Soaper. Para a educadora financeira, é preciso colocar tudo na ponta do lápis. "E é importante consultar a franqueadora para saber quais custos terão que ser cobertos nos primeiros meses, além da taxa da franquia", pontua.
Como começar
Segundo Soaper, se a pessoa recebe R$ 4.000 e quer uma franquia de R$ 3.000, por exemplo, mas não possui dinheiro guardado, o ideal é se associar a outra pessoa para dividir o investimento e não ficar "no limite". "Começar um negócio sem dinheiro em caixa é muito arriscado", afirma. "Antes de investir, é importante estudar o modelo, pesquisar sobre a franqueadora, conversar com outras pessoas que já tenham comprado a franquia, entender as dificuldades do negócio", elenca.
A educadora financeira faz, ainda, outro aleta: "É importante saber que, ao comprar uma franquia, você não é só um investidor, mas um empreendedor que deve tocar o negócio. Então, a análise deve ser não só financeira, mas avaliar também sua capacidade como empreendedor".
Serviços e alimentação lideram lista de opções
Os segmentos que concentram o maior número de microfranquias são o de serviços e outros negócios (27,4%); o de alimentação (16,2%); e o de saúde, beleza e bem-estar (15,5%). A Associação Brasileira de Franchising (ABF) divulgou uma lista com as 10 maiores microfranquias por número de unidades.
A rede Pit Stop Skol manteve a liderança no levantamento, com 1.880 unidades em operação, seguida pela Prudential, com 1.646 unidades.
A Prudential é a maior seguradora independente no segmento de pessoas, com cerca de 25% de market share, e tem uma carteira de mais de 3,1 milhões de vidas. Com cerca de 1,6 mil corretoras franqueadas em operação no país, a projeção da companhia para os próximos cinco anos é alcançar mais de três mil. O investimento inicial é a partir de R$ 45 mil, sendo R$ 30 mil para a taxa inicial da microfranquia e R$ 15 mil para emergências.
Retorno
Em comparação com outros modelos, as microfranquias apresentam prazo de retorno menor, que varia de sete a 16 meses, além de investimento que gira entre R$ 43 mil e R$ 55 mil.
Existem microfranquias de todos os tipos. A Omie, da área de tecnologia, comercializa softwares de gestão. Ela conta com um modelo home-based pensado para atuar em cidades menores, com investimento inicial de R$ 14 mil e faturamento médio anual de R$ 180 mil. O modelo é bastante acessível, com investimento menor, mais enxuto e flexível, já que os franqueados podem trabalhar remotamente e não precisam necessariamente montar equipes, além do retorno financeiro mais rápido.
A Happy é a maior hub (empresa integradora) de Educação no Brasil. A metodologia é diferenciada, com aulas para crianças e adolescentes, com programação de educação financeira, oratória e tecnológica. A Happy já conta com 58 unidades, inclusive na Europa. A Smart possui taxa de franquia de R$ 59 mil e exige investimento inicial de R$ 176 mil, com faturamento médio estimado de R$ 60 mil na fase madura do empreendimento.
Já a UpVet, é uma farmácia de manipulação no segmento Pet. A rede atingiu um faturamento de R$ 22 milhões, em 2021. A marca possui dois modelos de franquia: a de Farmácia e a UpVet Store (modelo itinerante que pode ser deslocada de um lugar para outro, como um quiosque de shopping. A partir de R$ 70 mil, o investidor pode começar um negócio com modelo estilo nômade. A UpVet possui 32 unidades espalhadas pelo Brasil, e tem o know how em manipulação veterinária nos setores alopático e homeopático com cinco segmentos bem definidos (cães, gatos, aves, cavalos e zoo).
Há também microfranquias com investimentos baixíssimos, como a ConstruConnect, que é uma rede de tecnologia que permite mapear obras futuras ou em andamento, e enviar informações para fornecedores de materiais de construção civil que queiram vender seus produtos. O investimento inicial é a partir de R$ 2 mil. O valor inclui taxa de franquia e capital de giro. O retorno do investimento é estimado em até três meses.