O banco Bradesco revisou as projeções econômicas da economia brasileira e elevou de 1,5% para 1,8% a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2022, devido ao desempenho do primeiro semestre, mas alertou que a economia deverá perder fôlego a partir da segunda metade do ano. Para 2023, a nova previsão do banco privado é de PIB zero.
Em junho, a estimativa de crescimento em 2023 era de 0,3%. Os efeitos da alta dos juros, que reduzem a capacidade de crescimento do país, explicam a reestimativa. Além disso, pesam outros fatores, como a incerteza sobre a solidez das contas públicas.
"O quadro fiscal ficou mais incerto nas últimas semanas. Há um avanço de pautas que ampliam desonerações e dispêndios governamentais. Algumas medidas devem ficar restritas a 2022, mas outras têm caráter permanente, com consequências para a trajetória da dívida pública", destacou Fernando Honorato, diretor de Estudos e Pesquisas Econômicas do Bradesco, em comunicado divulgado ontem.
Segundo ele, deve considerar, ainda, o menor dinamismo da economia internacional. "Ademais, o Brasil não será beneficiado pelo crescimento dos preços das commodities, como verificado nos últimos trimestres. Assim, o PIB brasileiro deverá ficar estável em 2023, após avanço de 1,8% em 2022", acrescentou.
De acordo com Honorato, as condições financeiras pioraram mesmo antes da aprovação Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 1, no Senado anteontem, ou PEC das "bondades", que prevê a aprovação de vários auxílios, gerando um rombo nas contas públicas superior a R$ 40 bilhões. A proposta ainda deve passar pela Câmara.
Segundo técnicos do governo e analistas do mercado financeiro, o pacote deve enterrar de vez o teto de gastos, que já tinha sido ampliado no fim de 2021 com as mudanças na metodologia. Com isso, o mecanismo deixou de ter eficácia no controle das despesas públicas.
No documento divulgado ontem, Honorato diz, ainda, que o quadro inflacionário requer atenção. Com as medidas recentes, o banco reduziu a projeção do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano de 9% para 7,5%, ainda acima do teto da meta de 5%. Já a previsão para 2023 aumentou, devido aos impactos fiscais da PEC, passando de 4,1% para 4,9%, também acima do limite superior.