A chegada ao país do 5G, a tecnologia mais avançada de conectividade rápida de internet, deve desencadear um processo de modernização em vários setores. A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) prevê o início de operação do sistema ainda este mês, em Brasília, e até o fim de agosto nas demais capitais. E, embora a massificação do acesso por meio de celulares seja um dos movimentos mais esperados, os cenários de aplicação da nova tecnologia vão muito além.
Estima-se que o 5G tenha potencial para movimentar US$ 25,5 bilhões no país até 2025, considerando apenas a impulsão de tecnologias como inteligência artificial, Big Data & Analytics, Cloud (nuvem), segurança, realidade aumentada e virtual AR/VR, Robotics e Internet das Coisas (IoT).
A projeção foi feita pela International Data Corporation (IDC) no primeiro semestre, e analisa o cenário de oportunidades da quinta geração de banda larga, e consta do estudo Tecnologia 5G - Impactos econômicos e barreiras à difusão no Brasil, publicado, no ano passado, pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
A expectativa é de que, até o fim de 2022, US$ 1,6 bilhão de dólares seja direcionado para soluções e serviços relacionados à Internet das Coisas. Com isso, as atividades ligadas a manufatura, mineração, óleo e gás, varejo e utilidades deverão liderar as iniciativas de uso desse tipo de tecnologia.
Precisão
"O 5G amplia o rol de funcionalidades e eleva a precisão do sistema de sensoriamento do chão de fábrica e de ativos industriais. A utilização de sensores que coletam dados, como a localização e gasto energético de equipamentos fabris, e detectam falhas em seu funcionamento, auxiliam a tomada de decisões. Com suporte da inteligência artificial, o sensoriamento aplicado à Internet das Coisas permite uma melhor gestão da cadeia produtiva, de modo a reduzir o desperdício e as emissões de poluentes", diz o estudo da CNI.
Entre as vantagens, o 5G permitirá a localização de máquinas e equipamentos, auxiliando em processos de mudança ou perdas de materiais; o gerenciamento energético e de ativos; a rastreabilidade do processo produtivo de ponta a ponta; e aidentificação de falhas, contando com o uso de realidade aumentada.
"A busca pelo aumento da produtividade brasileira passa pela digitalização de processos produtivos, com o uso de novas tecnologias. Esses novos métodos produtivos dependem da capacidade de conexão de muitos objetos por meio de sensores e do processamento de dados coletados em larga escala e em tempo real. Para atender esses requisitos, novas tecnologias de conectividade são essenciais. Portanto, é importante que os desafios de implementação da nova tecnologia sejam superados, garantindo que o país não fique para trás em relação aos seus concorrentes", alerta Samantha Cunha, gerente de Política Industrial da CNI.
De acordo com os estudos da entidade, a aplicação em larga escala da nova tecnologia pode aumentar o PIB per capita em até 0,20 ponto percentual em 2030, o que equivale a um acréscimo de R$ 81,3 bilhões.
De maneira similar ao que ocorrerá na indústria, a disseminação de redes 5G no campo permitirá o uso em larga escala de dados e de inteligência artificial para elevar a produtividade. Uma vez que estiverem mais difundidas, as tecnologias devem se tornar acessíveis a pequenos e médios produtores.
Entre as funcionalidades para o setor, estão o uso de sensores para coletar informações do solo em tempo real, tais como umidade, temperatura, acidez, presença de nutrientes e luminosidade. Dessa forma, será possível saber a quantidade exata de água e fertilizantes necessários para uma irrigação e nutrição adequadas, com base no tipo de planta cultivado, com a otimização da escala de produção.
Na pecuária, o sensoriamento de dispositivos como colares, brincos e câmeras, associados a softwares de inteligência artificial, pode fornecer uma análise detalhada do comportamento dos animais e de aspectos de sua saúde, como peso, quantidade de ração ingerida e detecção de doenças.
A mineração é um dos segmentos que mais poderão se beneficiar do 5G. A tecnologia viabiliza, por exemplo, mecanismos de localização de alta precisão - de menos de 1 metro - para o maquinário e trabalhadores por meio da tecnologia MEC (Multi-Access Edge Computing), característica de grande relevância em minas subterrâneas, onde não há sinal de GPS.
O 5G vai ampliar, ainda, o atendimento de pacientes por meio da telemedicina, ampliando possibilidades de monitoramento remoto das condições de saúde através da utilização de dispositivos inteligentes, como objetos vestíveis. "Enquanto o 4G permite o uso de relógios digitais que acompanham a frequência cardíaca, ou sensores que emitem alertas sobre o nível de glicose no sangue, o 5G suporta uma densidade de dispositivos conectados 10 vezes maior", diz o estudo da CNI.
Cidades inteligentes
A nova tecnologia de conexão rápida permitirá o desenvolvimento de "cidades inteligentes" — aquelas que evitarão o desperdício de recursos e tornarão a produção de serviços públicos mais eficiente. Sistemas de iluminação pública de lâmpadas LED que farão monitoramento do ambiente, por exemplo, permitirão um ganho de eficiência energética de até 90%. Sensores farão o monitoramento de pedestres e veículos, temperatura, luz ambiente e grau de poluição do ar.
Os sensores acoplados às luminárias poderão, ainda, contribuir para a fiscalização de trânsito, como pelo reconhecimento facial. Os motoristas poderão obter informações sobre vagas de estacionamento disponíveis, poupando tempo e reduzindo as emissões de poluentes dos veículos. Porém, entre os mais aguardados itens viabilizados pelo 5G está a operação de veículos autônomos, ou seja, capazes de transportar pessoas ou bens sem o suporte de um condutor humano.
"A expectativa é que, com essa tecnologia, as pessoas poderão se dedicar com segurança a outras atividades durante o percurso, otimizando o tempo e reduzindo o estresse do trânsito, além do potencial de diminuição na taxa de acidentes e emissão de poluentes", avaliam os especialistas da CNI.
Saneamento
O saneamento básico também poderá ser modernizado com a instalação de sensores com conexão 5G nas tubulações de água e esgoto para identificar anomalias na na qualidade do serviço. Além de detectar vazamentos e necessidades de reparo na infraestrutura, a medida reduziria o desperdício e os riscos de contaminação ao meio ambiente.
Tais sensores poderão identificar o vazamentos e falhas na tubulação, enquanto o envio de feedback ao residente (via aplicativo, e-mail ou SMS) tem o potencial de elevar a conscientização sobre o uso da água e reduzir o consumo em até 15%.
"E há uma dupla dimensão da redução dos desperdícios: o 5G também possibilita uma economia de 50% no consumo de bateria dos sensores, o que amplia o tempo de vida e reduz custos operacionais dos sistemas de distribuição de água. Uma conexão ampla entre as tecnologias de monitoramento de tubulações, via 5G, pode diminuir em mais de 10% os custos com energia elétrica das concessionárias de água", diz o documento da CNI.