Com forte avanço da atividade no setor de serviços, a taxa de desemprego recuou para 9,8% no trimestre encerrado em maio — a mais baixa para esse período desde 2015, quando foi de 8,3%. Na comparação com o mesmo período do ano passado, a queda foi de 4,9 pontos percentuais, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
De acordo com o levantamento, o número de pessoas ocupadas chegou a 97,5 milhões, o maior da série histórica, iniciada em 2012, com alta de 10,6% em relação ao mesmo trimestre de 2021. "Isso equivale a um aumento de 2,3 milhão de pessoas no trimestre e de 9,4 milhões de ocupados no ano", destacou o IBGE. Apesar da melhora, o país ainda contabiliza um número elevado de desempregados: 10,6 milhões de pessoas à procura de uma vaga.
A recuperação do setor de serviços, depois da forte crise de 2020, foi a principal responsável pela melhora do mercado de trabalho. O aumento da vacinação e a diminuição das restrições de circulação de pessoas permitiram que setores como hotéis e restaurantes, entre outros, voltassem a crescer e a contratar trabalhadores. "Trata-se de um processo de recuperação das perdas que ocorreram em 2020, que começou em 2021 e continua neste ano", disse Adriana Beringuy, coordenadora da pesquisa.
O economista-chefe da Terra Investimentos, João Maurício Lemos Rosal disse que o ritmo da criação de vagas surpreendeu. "A combinação de alta da participação, aumento do emprego e queda do número de desempregados continua sinalizando uma vigorosa recuperação do mercado de trabalho", afirmou.
Informalidade
Os dados do IBGE, contudo, também mostram que o maior crescimento da ocupação ocorreu entre trabalhadores sem carteira assinada, que teve alta de 23,6%. Já o número de postos formais aumentou 12,1% no período. O rendimento médio habitual do trabalhador, de R$ 2.613, permaneceu estável ante o trimestre anterior. Em relação ao mesmo período de 2021, houve queda de 7,2%.
Para Bruno Hora, cofundador do escritório de investimentos a InvestSmart, dois fatores têm influenciado a geração de empregos e a renda das pessoas — a inflação e o que ele chama de pós covid. "De um lado, a inflação alta dificulta muito que apareça algum ganho real de salários; do outro, o pós-covid aumentou consideravelmente o número de pessoas que voltaram a trabalhar", explicou. "A leitura do Pnad é que muitas pessoas que estavam sem ocupação voltaram a trabalhar, a massa de salários em números gerais aumentou, mas a renda média ainda não", completou.
Adriana Beringuy, do IBGE, observou que a queda do rendimento no anual ocorreu, inclusive, em "segmentos da ocupação formais, como o setor público; até mesmo entre os trabalhadores formalizados há um processo de retração".
Segundo a pesquisadora, isso pode ser efeito da inflação, mas também da estrutura do mercado, com um peso maior de trabalhadores que ganham salários menores. A massa de rendimento real habitual (R$ 249,8 bilhões) cresceu 3,2% ante o trimestre anterior e 3% na comparação anual.