"O grande legado que a pandemia deixou é que o orgânico cresce na mente das pessoas", explica Cobi Cruz, diretor executivo da Organis — Associação de Promoção dos Orgânicos. O consumo de produtos do tipo passou de 19% para 31%, entre os anos de 2019 e 2021, de acordo com a pesquisa "Panorama do consumo de orgânicos no Brasil 2021", realizada pela entidade, em parceria com a consultoria Brain e com a iniciativa UnirOrgânicos.
O estudo mostra que os itens orgânicos mais consumidos são os hortifrútis (75%), seguidos por grãos (12%), cereais (10%), açúcar (8%) e biscoitos (6%). Além disso, a saúde é citada por 47% dos entrevistados como o principal motivo para a compra de produtos do gênero, enquanto outros 13% dizem que o mais importante é serem livres de agrotóxicos. Para 24%, esses produtos têm melhor qualidade.
Os dados foram levantados entre produtores, varejistas e canais on-line, que renderam 987 entrevistas em todo o país, entre setembro e outubro de 2021. "O orgânico começou a aparecer, não isoladamente nas pesquisas de interesse do consumidor, muitas vezes associados a produtos frescos, por exemplo. Uma hora ele vai aparecer sozinho porque os consumidores querem ver orgânicos na prateleira", avalia Cobi.
Entretanto, a comercialização enfrenta duas barreiras, que Cobi elenca como principais. "A primeira delas é a falta de entendimento sobre o que é um produto orgânico. Por efeito, outro problema é a falta de valorização desse produto pelo não entendimento e a disposição de pagar seu preço", explica.
Assim, o consumo no Brasil está longe de alcançar um limite. "O mercado orgânico tem muito a crescer sem precisar aumentar a área de produção. O Brasil está muito longe de saturar esse mercado. O orgânico é mais do que um benefício individual, é um bem coletivo e ambiental", diz.
Outra informação levantada pela pesquisa foi quanto ao local mais acessível para a compra de orgânicos. Supermercados são os principais canais de vendas para 48% dos entrevistados, seguidos pelas feiras (47%). De acordo com Orbi, atualmente, esse é um comportamento também em fase de modernização. "Na época eram produtores que vinham do interior para vender nas feiras. Hoje, as prateleiras são também virtuais", diz.
Proprietário do mercado on-line de produtos orgânicos Pomar Brasília, que entrega por meio de delivery, o advogado Fábio Bittencourt diz que o cenário continua estimulante, mas que o fim da pandemia esfriou a demanda por "cestas básicas de orgânicos", que são entregues duas vezes por semana. Os kits custam entre R$ 120 e R$ 180, a depender dos itens escolhidos pelo cliente.
"Na pandemia entregamos entre 80 e 90 cestas semanais, mas agora chegamos a, no máximo, 45, com 12 itens, no mínimo. São até 18 produtos nela. Por essa razão, também diminuí o número de funcionários, de quatro para duas pessoas", explica Fábio, que trabalha duas vezes por semana no Pomar, sem abandonar a advocacia.
A consultora de relacionamento, Laís Martins dos Santos, é uma das que resistiu e se mantém consumindo alimentos orgânicos, comprando uma cesta básica com valores entre R$ 140 e R$ 180 por semana. "Já há algum tempo tenho preferido comprar produtos orgânicos por conta da saúde e saber que são livres de agrotóxicos", confirma.
Na cesta são quatro tipos de frutas, quatro tipos de verduras, quatro tipos de legumes e um tipo de tempero. "Leio várias coisas a respeito e também tenho a sensação que o sabor fica mais acentuado e melhor. Com a entrega em casa, consigo comer salada em todas as refeições", explica.
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