A Petrobras pode sofrer redução de 50% da capacidade de refino da produção nacional de petróleo caso privatize refinarias no Norte e no Nordeste. Isso pode expor a empresa à volatilidade dos preços internacionais e aumentar os riscos de desabastecimento interno, de acordo com a análise do pesquisador Mahatma Ramos dos Santos, do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis Zé Eduardo Dutra (Ineep). No último trimestre, a empresa já registrou redução de 5,1% na produção média de óleo, líquido de gás natural (LGN) e gás.
A Petrobras divulgou o relatório de vendas do 2º trimestre de 2022 na última quinta-feira (21/7). O documento mostra que, em comparação ao mesmo período do ano passado, houve queda na produção de petróleo e gás natural, recuperação da produção de derivados e redução do volume de vendas de derivados no mercado interno, na comparação com mesmo trimestre do ano anterior.
A produção média de óleo, líquido de gás natural (LGN) e gás natural caiu 5,1%, indo de 2,76 milhões de barris de óleo equivalente por dia (boe/d), no segundo trimestre de 2021, para 2,65 milhões no mesmo período deste ano. A produção média de derivados, por sua vez, cresceu 1,7% no mesmo período, passando de 1,74 milhão de barris diários para 1,77 milhão de bpd em 2022.
De acordo com Santos, a redução da produção de petróleo e gás natural da estatal se justifica por ao menos dois fatores. “O primeiro deles, é o início da vigência do Contrato de Partilha de Produção dos Volumes de Excedente da Cessão Onerosa dos campos de Atapu e Sépia, que caíram cerca de 90 mil barris equivalente de petróleo por dia (boe/d)”, explica.
Em 2021, a Petrobras leiloou o excedente de Atapu e Sérpia por R$ 11,1 bilhões, além de transferência de parte do volume produzido à União. Entre as empresas vencedoras estão a Total Energies (francesa); a Petronas (da Malásia), e QP Brasil (Catar Petroleum).
O segundo problema apontado por Santos foram as paradas de manutenção e intervenções em nove plataformas petrolíferas em sete campos distintos. “Essa queda poderia ser maior, não fosse o início da produção na FPSO Guanabara, no campo de Mero, e a manutenção dos ramp-ups na FPSO Carioca (campo de Sépia) e P-68, nos campos de Berbigão e Sururu”, avalia.
Até mesmo no polígono do pré-sal, vetor da expansão da produção nos trimestres anteriores, houve queda na produção de 0,7% no 2T22, assim como na produção de óleo e gás no pós-sal (14,2%) e em terra e águas rasas (28,3%). No pré-sal, a produção caiu de 1,62 milhão de barris de óleo equivalente por dia (boe/d) em 2T21 para 1,60 milhão de boe/d no atual trimestre.
“Contudo, a produção no pré-sal representou 73% da produção total da Petrobras em 1T22, três pontos percentuais superiores aos 70% registrados no 2T21”, diz.
Expectativas
Para Santos, o desempenho atual é reflexo da estratégia operacional da Petrobras, que concentrou seus investimentos quase exclusivamente no desenvolvimento da produção do pré-sal. “A empresa optou por abandonar áreas de produção no Norte e Nordeste brasileiro, majoritariamente em campos terrestres e águas rasas. Ademais, esses resultados acendem o alerta para necessidade de maiores investimentos nas atividades de exploração e produção”, avalia.
Nesse contexto, o pesquisador do Ineep aponta que as vendas de quatro refinarias que representam 50% da produção da Petrobras - Refinaria Abreu e Lima (RNEST), Refinaria Gabriel Passos (REGAP), Refinaria Presidente Getúlio Vargas (REPAR) e Refinaria Alberto Pasqualini (REFAP) - deverá piorar esse quadro. “Se concluídas, essas vendas reduzirão, segundo a própria Petrobras, a capacidade de seu parque de refino dos atuais 2,2 milhões de barris de petróleo por dia para cerca de 1,2 milhão. Essa estratégia deve expor ainda mais a empresa à volatilidade dos preços internacionais, ampliar os riscos de desabastecimento do mercado interno e, por conseguinte, elevar os preços médios para o consumidor brasileiro”, explica Santos.
Petrobras
De acordo com nota ao mercado, o plano de desinvestimento em refino da Petrobras representa, aproximadamente, 50% da capacidade de refino nacional, totalizando 1,1 milhão de barris por dia de petróleo processado. Além das quatro unidades acima, as privatizações atingem também a Unidade de Industrialização do Xisto (SIX), Refinaria Isaac Sabbá (REMAN) e Lubrificantes e Derivados de Petróleo do Nordeste (LUBNOR).
Ainda conforme a empresa, a venda dessas oito refinarias está sendo conduzida de acordo com o Decreto 9.188/2017 e a Sistemática de Desinvestimentos da Petrobras, por meio de processos competitivos independentes, os quais se encontram em diferentes estágios, conforme amplamente divulgados pela companhia.
“As operações estão em consonância com a Resolução nº 9/2019 do Conselho Nacional de Política Energética, que estabeleceu diretrizes para a promoção da livre concorrência na atividade de refino no país, e integram o compromisso firmado pela Petrobras com o CADE em junho de 2019 para a abertura do setor de refino no Brasil”, diz a estatal.
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