A escalada da inflação tem ajudado a engordar os cofres públicos como nunca, pois todo brasileiro está pagando mais imposto para o Leão sobre os produtos e itens mais caros. Segundo dados da Receita Federal divulgados ontem, a arrecadação de junho cresceu 18%, em termos reais (descontada a inflação), somando R$ 118,04 bilhões. Foi o terceiro melhor resultado do Fisco no ano e o maior para os meses de junho da série histórica da Receita Federal, iniciada em 1995. O levantamento baseia-se no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que acumula alta de 11,89% nos 12 meses encerrados em junho.
No primeiro semestre do ano, o total de tributos recolhidos pelo Leão chegou a R$ 1,089 trilhão — 11% superior, em termos reais, ao volume registrado no mesmo período de 2021 e também recorde histórico. Os números foram apresentados pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. Ele fez questão de reafirmar que o aumento da arrecadação é fruto de uma retomada econômica e minimizou a influência da carestia na arrecadação. Além disso, garantiu que o país está no rumo do crescimento sustentável, apesar do aumento dos juros. "O Brasil está no início de um longo ciclo de crescimento econômico, apesar dos juros altos", disse.
O Banco Central tem elevado a taxa básica da economia (Selic), atualmente em 13,25% ao ano, na tentativa de colocar a inflação abaixo do teto da meta — algo que não conseguiu no ano passado e vai fracassar neste ano também. A tendência é que a Selic continue subindo e permaneça em patamares elevados até o próximo ano. Analistas do mercado estimam crescimento perto de zero em 2023, na melhor das hipóteses.
Mas Guedes segue otimista. "O Brasil vai continuar surpreendendo", avisou. Ele voltou a afirmar que o mundo está em um processo de "desaceleração sincronizada" e vários países devem entrar em recessão. Mas o Brasil caminhará na contramão, com emprego e renda subindo e a arrecadação surpreendendo. "O fato é que o Brasil está crescendo. As contas externas e as contas públicas estão em ordem. O resto é narrativa", completou.
O secretário especial da Receita Federal, Julio Cesar Vieira Gomes, também comemorou o resultado e disse que os números de junho foram "surpreendentes". Segundo ele, as desonerações de impostos implementadas neste ano não prejudicaram a arrecadação do semestre. Conforme os dados do órgão, o impacto das reduções do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e de PIS-Cofins sobre combustíveis foi de R$ 5,8 bilhões e de R$ 5,1 bilhões, respectivamente, totalizando R$ 10,9 bilhões, ou seja, praticamente o dobro do valor que deverá ser contingenciado.
Um dos principais motivos do aumento da arrecadação, segundo Guedes, foi a retomada da economia. Ele e os técnicos lembraram que essa recuperação ajudou a melhorar o resultado das empresas e, com isso, o recolhimento de Imposto de Renda Pessoa Jurídica e Contribuição sobre o Lucro Líquido (IRPF/CSLL) cresceu 21,54% no acumulado do ano, somando R$ 258,5 bilhões.
Contudo, quando esse dado é segregado por ramos de atividade, o fator preço pesa mais. A receita com esses tributos no setor de combustíveis — um dos vilões da inflação — teve um salto de 1.691,4%, para R$ 21,15 bilhões, enquanto o segundo maior volume, com o setor de extração de minerais, aumentou 30,88% no mesmo período, para R$ 24,96 bilhões.
Outro dado apontado pelo Fisco foi o crescimento real de 62,82% na arrecadação do Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF) — Capital, em razão do desempenho dos fundos e títulos de renda fixa, devido aos juros elevados na casa de dois dígitos, um freio considerável para a atividade neste segundo semestre.
A economista Juliana Damasceno, especialista em contas públicas da Tendências Consultoria, lembra que a receita está crescendo, mas o recolhimento de tributos como IRPJ/CSLL é sazonal. Logo, não há garantia de novos recordes de arrecadação nos próximos meses. "Uma parte dessa receita acima do esperado está ligada com a atividade econômica, mas o componente preço ainda está presente, especialmente porque o IPCA não é um bom espelho para expurgar o efeito da inflação da base tributária", alertou.
Ela lembrou ainda que existe uma parte da melhora da arrecadação relacionada à atividade que não é estrutural, principalmente, quando houver acomodação do ciclo de alta dos preços das commodities. "É muito difícil acreditar que será possível manter a arrecadação nos níveis atuais quando se espera um processo desinflacionário em meio aos efeitos contracionistas da política monetária", alertou.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.