ECONOMIA E SOCIEDADE

Inflação prejudica mais as mulheres e pode agravar desigualdade de gêneros

O relatório do Fórum Econômico Mundial aponta que das 146 economias pesquisadas, somente uma em cada cinco conseguiu diminuir a desigualdade de gênero em pelo menos 1% no ano passado

Vicente Nunes - Correspondente
postado em 13/07/2022 16:30 / atualizado em 13/07/2022 17:35
O Brasil, ressaltou o Fórum, é lar de mais de 108 milhões de mulheres -  (crédito:  Rodrigo Nunes/CB/D.A Press)
O Brasil, ressaltou o Fórum, é lar de mais de 108 milhões de mulheres - (crédito: Rodrigo Nunes/CB/D.A Press)

Lisboa, Portugal — Apesar da ligeira melhora observada nos indicadores, a disparidade de gêneros continua assustadora em todo o mundo. Dados divulgados nesta quarta-feira (13/07) pelo Fórum Econômico Mundial apontam que serão necessários 132 anos para que homens e mulheres tenham as mesmas condições de vida, seja em termos de renda, seja de acesso à educação e à saúde e em participação política. Em relação a 2021, esse fosso diminuiu em quatro anos. No Brasil, o quadro ficou estagnado, e o país aparece na 94ª posição entre 146 nações pesquisadas. Quando o recorte é a América Latina e o Caribe, o Brasil está à frente somente de Belize e Guatemala, em 20º lugar.

Segundo Saadia Hahidi, diretora Administrativa do Fórum, não bastasse a redução mínima na disparidade de gêneros, as mulheres passaram a enfrentar mais um desafio: a disparada da inflação. Como, em geral, já ganham menos que os homens, elas veem o poder de compra diminuir mais rapidamente. “A crise do custo de vida está impactando desproporcionalmente as mulheres após o choque das perdas do mercado de trabalho durante a pandemia e a contínua inadequação da infraestrutura de atendimento”, disse ela, que vê as mulheres também como maiores vítimas de conflitos armados, como o na Ucrânia, e de mudanças climáticas.

Para a executiva, diante da fraca recuperação da economia — o risco de recessão global é cada vez maior —, governos e empresas devem priorizar dois conjuntos de esforços: políticas direcionadas para apoiar o retorno das mulheres ao mercado de trabalho e desenvolvimento de talentos femininos nas indústrias do futuro. “Caso contrário, corremos o risco de erodir permanentemente os ganhos das últimas décadas e perder os futuros retornos econômicos da diversidade”, afirmou Saadia Zahidi. Ela destacou ainda que o rendimento médio das mulheres encolheu 1% no ano passado e o dos homens, 7%. Por isso, a ligeira melhora nos indicadores. O ideal seria que a renda das trabalhadoras subisse mais do que a do público masculino de forma contínua.

O relatório do Fórum aponta que das 146 economias pesquisadas, somente uma em cada cinco conseguiu diminuir a desigualdade de gênero em pelo menos 1% no ano passado. Assim, embora ganhos tenham sido obtidos, a redução de apenas quatro anos pouco compensa o revés de toda uma geração registrado em 2020-2021, no auge da pandemia. Agora, pelos dados atuais, em vez de a paridade de gênero ser atingida em 2158, será alcançada em 2154, caos o mundo continue trabalhando lentamente nesse sentido. Os cinco países com menor desigualdade de gênero são, pela ordem, Islândia, Finlândia, Noruega, Nova Zelândia e Suécia. Já os com maior disparidade são Afeganistão, Paquistão, República Democrática do Congo e Chade.

Revés na política

Ainda que tenha ficado estagnado no Relatório Global de Desigualdade de Gênero, que está na sua 16ª edição, o Brasil aparece em ótimas condições quando os indicadores são abertos. No item que trata de educação, o país aparece no topo do ranking, empatado com 20 nações. O mesmo ocorre em relação ao acesso à saúde e à sobrevivência — empate com 28 países. O que faz o Brasil despencar no cálculo final do levantamento são a participação e as oportunidades para mulheres no mercado de trabalho (85º lugar) e a presença delas na política. Nesse quesito, o país aparece na 104ª posição. O documento cita que, no Senado brasileiro, dos 81 eleitos, somente 12 (14,8%) são mulheres.

O Brasil, ressaltou o Fórum, é lar de mais de 108 milhões de mulheres. Portanto, é preciso que a participação política delas seja maior. Na atual disputa pela Presidência da República, apenas três mulheres aparecem no páreo, até agora, sem qualquer condição de vitória: Simone Tebet (MDB), Vera Lúcia (PSTU) e Sofia Manzano (PCB). O relatório destacou também que essa minguada participação das mulheres em cargos eletivos acontece a despeito de o país ter um sistema de cotas obrigando que, no mínimo, 30% das candidatas ao Congresso sejam do sexo feminino.

No entender da diretora do Fórum Econômico Mundial, há muito por ser feito por todos os países no sentido de tornar as economias e as sociedades mais diversas. Mas é preciso vontade política. “Entre 2021 e 2022, o subíndice de participação econômica e oportunidade aumentou 1,6%, baseado principalmente em ganhos para mulheres em cargos profissionais e técnicos e na diminuição da diferença salarial, mesmo que a desigualdade de gênero na força de trabalho tenha aumentado”, frisou. Para o subíndice de saúde e sobrevivência, houve uma pequena melhora, enquanto o subíndice de escolaridade caiu e o empoderamento político estagnou”, acrescentou.

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