conjuntura

Analistas veem queda da inflação em julho

Indicador de junho, que será divulgado hoje pelo IBGE, ainda não vai mostrar efeito do corte de impostos sobre os combustíveis

Rosana Hessel
Fernanda Strickland
postado em 08/07/2022 06:00
 (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
(crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

Apesar da queda recente no preço dos combustíveis, a inflação oficial de junho, que será divulgada na manhã de hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), deve mostrar aceleração em relação ao mês anterior, de acordo com as projeções de analistas ouvidos pelo Correio. Segundo eles, a alta do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve ficar entre 0,70% e 0,80%. Em maio, o indicador registrou avanço de 0,47%.

A economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria, estima inflação de 0,76% em junho. Segundo ela, a tendência de aceleração foi captada pelo IPCA-15, a prévia da inflação, que avançou 0,69% nos 30 dias encerrados na primeira quinzena do mês passado. Para Alessandra, a pressão sobre o índice de junho ainda vem, sobretudo, do reajuste do preço de combustíveis autorizado no mês passado. "Esse será o principal elemento, além de pressões relacionadas à habitação, como energia e artigos eletrônicos", destacou.

Deflação em julho

A redução de tributos sobre os combustíveis, porém, terá forte efeito de baixa sobre o IPCA de julho. Pelas estimativas da Tendências, a expectativa é de deflação em torno de 1% neste mês, o que fará o IPCA desacelerar para 9,8% no acumulado em 12 meses. "Mesmo assim, a inflação ainda continuará acima do teto da meta (de 5%) e o Banco Central ainda vai ter muito trabalho", destacou Alessandra Ribeiro.

De acordo com Fábio Romão, economista sênior da LCA Consultores, a queda no custo da energia em maio, com o fim da cobrança da bandeira tarifária de escassez hídrica foi importante para o IPCA perder força naquele mês, mas o efeito foi dissipado em junho. Ele prevê avanço de 0,70% no indicador do mês passado e diz que, com isso, a taxa acumulada em 12 meses passará de 11,73% para 11,92%. "É uma nova aceleração, mas, de qualquer modo, o pico da inflação ocorreu em abril, quando o IPCA acumulou alta de 12,13%", disse.

Pelas projeções de Romão, alimentação e habitação devem ser os principais fatores de alta do IPCA de junho. Para ele, o impacto do último reajuste da gasolina e do diesel anunciado pela Petrobras, de 14,26% e de 5,18%, respectivamente, não deve ser muito grande, pois ocorreu no meio do mês passado e afetou o IPCA apenas na segunda quinzena. "Em julho, por conta dos cortes do ICMS e outros tributos sobre os combustíveis, é esperada queda no IPCA", acrescentou.

Fábio Tadeu Araújo, economista da FAE Business, também prevê que o IPCA de junho ainda deve vir forte, mas apresentar alívio neste mês. "As medidas do governo, em especial a redução do ICMS sobre gasolina, diesel e gás de cozinha, tiveram efeito apenas em julho", reforçou. Na estimativa dele, o IPCA do mês passado deve ficar entre 0,70% e 0,80%.

Segundo Araújo, a inflação permanece elevada também devido aos reajustes dos planos de saúde autorizados em maio pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), com reflexo maior no IPCA de junho.

De acordo com o economista e consultor financeiro Vinícius do Carmo, a inflação também vem como resposta às medidas fiscais em curso e às incertezas do cenário externo, que estão valorizando o dólar. "No Brasil temos como agravantes a desvalorização do real frente às moedas fortes sendo repassada por preços administrados ao conjunto da economia. Além disso, como tem sido apontado nos levantamentos do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) a empregabilidade tem crescido e, à medida que a economia se acelera, com a redução da taxa de desemprego, temos novo repique da inflação", explicou.

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