conjuntura

Presidente do BC acredita em crescimento maior que o esperado

Roberto Campos Neto diz que "o pior da inflação já passou", mas que é preciso avaliar o impacto do "pacote de bondades" do governo

Lisboa, Portugal — O Banco Central está acompanhando com lupa o impacto na economia do pacote de bondades que o governo está preparando — aumento do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600 e Pix de R$ 1 mil para caminhoneiros —, mas o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, afirmou que o pior momento da inflação já passou. O custo de vida medido pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) está acima de 12% no acumulado de 12 meses, contudo, o BC estima que o indicador encerrará 2022 mais próximo de 8%.

“Acreditamos que o pior momento da inflação já passou. Temos algumas medidas desenhadas pelo governo (avaliadas em até R$ 50 bilhões) que precisamos entender qual é o impacto no processo inflacionário, ainda não está claro”, ressaltou Campos Neto, durante participação no Fórum Político de Lisboa. Para ele, tem havido surpresas positivas na área fiscal, graças aos consecutivos recordes de arrecadação, impulsionada, em parte, pela inflação.

Se nada sair do roteiro do Banco Central, a perspectiva é de que o Comitê de Política Monetária (Copom) promova um último aumento da taxa básica de juros (Selic) na reunião prevista para o início de agosto. A Selic está em 13,25% ao ano e pode ir, nas estimativas dos economistas, a 13,75%. Os juros estão subindo desde março do ano passado, quando chegaram ao piso histórico de 2%. O BC tem alegado que boa parte da alta do custo de vida reflete a disparada dos preços globais, sobretudo dos alimentos e da energia.

“O Brasil sempre trabalhou com inflação acima do mundo desenvolvido. Mas, hoje, a inflação está até abaixo da mediana. Ao contrário dos últimos anos, em que era inflação brasileira, há um componente global muito forte da inflação”, destacou o presidente do BC. “Obviamente temos que combater a inflação. Não vamos usar isso como desculpa, mas é importante entender os componentes da inflação”, emendou ele, alertando para um outro movimento visto no mundo, a indexação dos salários à inflação, que não chegou ao Brasil.

Petróleo e alimentos


Municiado por uma série de gráficos, Campos Neto enfatizou que o Brasil foi um dos primeiros países a elevar os juros, por isso, esse processo está perto do fim, ao contrário do que se percebe nas economias desenvolvidas. Ele estimou que o aperto monetário nos Estados Unidos pode empurrar o custo básico do dinheiro a 4% ao ano, saindo de taxas negativas, mas não é possível dizer, com clareza, se tal arrocho fará com que a maior economia do planeta mergulhe na recessão, levando outros países junto.

Ele chamou ainda a atenção para o conjunto de medidas que vem sendo adotadas mundo afora para tentar conter os preços da energia, em especial a proveniente do gás e do petróleo. Na opinião dele, há uma descoordenação nas ações, resultando em custos fiscais maiores do que os vistos no Brasil. “O Brasil não é, nem de longe, um dos mais afetados pelos preços da energia, que é um tema global”, frisou. Ainda assim, o presidente Jair Bolsonaro resolveu comprar uma briga com a Petrobras e incentivar o Congresso a aprovar propostas que segurem os preços dos combustíveis para tentar garantir a reeleição.

Além da questão energética, os países têm agido para segurar os preços dos alimentos, cuja inflação disparou depois da guerra na Ucrânia, o que pode resultar numa crise humanitária sem precedentes. Para o presidente do BC, as crises energética e alimentar têm raiz na falta de um plano conjunto de governos mundo afora para garantir segurança à população. “Desconexão entre preços e produção não acontece só com petróleo, mas com alimentos. O anseio de gerar segurança alimentar e energética está sendo descoordenado”, assinalou. E emendou: “Vemos que onde há mais dúvida é sobre regulação de preços ou ações via empresa estatal e alguma coisa de lucros. O que está sendo mais adotado é a parte de tributos ou transferência (de renda)”.

Crescimento


Campos Neto disse que, independentemente do aumento da inflação, o crescimento do Brasil neste ano será melhor do que o esperado. A previsão do Banco Central é de alta de 1,7% no Produto Interno Bruto (PIB). No entender dele, o segundo trimestre mostrará um avanço mais forte da atividade, com desaceleração no segundo semestre. Esse resultado melhor da produção e do consumo fez com que a taxa de desemprego caísse para níveis inferiores ao observado antes da pandemia do novo coronavírus. A renda do trabalho, no entanto, não tem acompanhado esse quadro mais favorável.

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