A prévia da inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), ficou em 0,69% em junho, acima da taxa de 0,59% registrada em maio. Segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com alta média de 2,99%, os planos de saúde pressionaram o índice, representando, isoladamente 0,10 ponto percentual do indicador.
O item, que faz parte do grupo de Saúde e Cuidados pessoais, teve um reajuste de até 15,5% para os convênios individuais e familiares, autorizado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) em 26 de maio.
A gerente de restaurante Fernanda Vasquez, 30 anos, teve que cortar o plano de saúde no ano passado. Para ela, é muito difícil manter um plano particular neste momento. "Na pandemia, a gente teve corte de salário, e só agora que está normalizando. Aí, tive que cortar o plano de saúde porque estava aumentando muito", contou a moradora do Cruzeiro.
Todos os grupos de produtos e serviços pesquisados apresentaram alta em junho, mas o maior impacto foi do grupo de Transportes, que subiu 0,84%, em média. Fernanda também teve que adaptar o orçamento nesse caso e, em vez de usar o carro, prefere caminhar ou usar a bicicleta para ir ao supermercado e cumprir outras atividades do dia a dia. "Como a gente mora e trabalha aqui (no Cruzeiro), cortamos quase 100% o uso do carro. Agora, só para visitar a família, uma vez no mês, e olhe lá", explicou.
Alimentos
Em meio à alta geral, a desaceleração no grupo de Alimentação e Bebidas, que teve alta de 0,25%, após subir 1,52% em maio, foi a grande surpresa na prévia da inflação. O resultado teve influência dos alimentos para consumo no domicílio, que saíram de uma elevação de 1,71% em maio para uma variação de apenas 0,08% neste mês.
Segundo André Braz, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre FGV), a desaceleração não foi generalizada, mas de alguns alimentos naturais, devido a condições climáticas. Houve quedas nos preços da cenoura (-27,52%), do tomate (-12,76%), da batata-inglesa (-8,75%), das hortaliças e verduras (-5,44%) e das frutas (-2,61%).
"A desaceleração da alimentação foi bem-vinda, mas o resultado das outras classes de despesa mostra que a inflação ainda está muito espalhada. Mesmo não estando concentrada tanto em itens importantes para o orçamento familiar, vários outros produtos, bens e serviços apresentaram aumento nos preços, como motocicletas e automóveis", observou o economista.
Para a trabalhadora autônoma Elmira Pereira, 58 anos, os itens básicos são os que mais pesam no orçamento doméstico. Ela observou que o valor de todos os alimentos que compõem a cesta básica, como feijão e arroz, aumentou consideravelmente nos últimos meses. "Está tudo muito caro, e a gente não tem muito o que fazer. Mas carne, feijão, arroz, tudo isso vem subindo", disse. O leite longa vida se destacou: depois de 7,99%, em maio, registrou mais uma alta, de 3,45%, em junho.
Gasolina e diesel
Braz ressaltou que o índice deste mês não teve impacto do reajuste nos preços da gasolina (5,18%) e do diesel (14,26%) anunciado pela Petrobras no fim da semana passada, após o fechamento do período da coleta de dados. "Esses aumentos devem se refletir na próxima coleta de preços. Ao menos 50% desse aumento dos combustíveis deve ser repassado na prévia da inflação de julho", avaliou.
Nas 9 regiões metropolitanas, além de Brasília e Goiânia, onde a pesquisa é realizada, a alta foi generalizada. Mas Salvador teve destaque, com o indicador subindo 1,16%, especialmente por conta da gasolina e do reajuste de 20,97% nas tarifas locais de energia elétrica. Já a menor alta entre as capitais foi em Belém, onde o índice registrou leve alteração positiva de 0,18%, influenciado pela queda nos preços do açaí e da gasolina.
Com o resultado do último mês, o IPCA-15 acumula alta de 5,65% no ano, e, em 12 meses, de 12,04%, pouco abaixo dos 12,20% registrados nos 12 meses imediatamente anteriores. Mesmo tendo desacelerado, o indicador ainda representa mais de duas vezes o teto da meta oficial para a inflação este ano, que é de 3,5%, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
* Estagiário sob a supervisão de Odail Figueiredo
Saiba Mais