Depois de ensaiar uma queda expressiva ao longo da manhã, por conta da demissão do agora ex-presidente da Petrobras, José Mauro Coelho, o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) encerrou esta segunda-feira (20/6) com um leve crescimento de 0,03%.
A bolsa chegou a operar aos 98.586 pontos, em torno das 10:30 da manhã, mas ao longo do dia recuperou as perdas e encerrou o primeiro pregão da semana aos 99.852 pontos. Com isso, a bolsa brasileira não conseguiu recuperar os 100 mil pontos, marca perdida na última sexta-feira (17/6), quando o índice encerrou a semana aos 99.824 pontos — menor desempenho desde novembro de 2020.
As ações da Petrobras (PETR4) também obtiveram um bom resultado no dia, mesmo com as tensões envolvendo a troca de comando da empresa, que se prepara para receber o quarto presidente desde o início do governo de Jair Bolsonaro (PL), em 2019.
Em um movimento semelhante ao Ibovespa, as ações da petrolífera oscilaram negativamente durante a manhã. Mas ao final do dia, os títulos da companhia estatal de petróleo registraram aumento de 1,14%, no valor de R$ 27,62.
Em contrapartida, o dólar comercial manteve o crescimento da semana passada e alcançou o valor de R$ 5,18, ao final do pregão, com aumento de 0,85%. É a terceira subida consecutiva do câmbio da moeda norte-americana no mercado nacional.
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Especialistas comentam situação da Petrobras
Para o professor de economia da PUC-SP, Antônio Carlos Alves dos Santos, mesmo com o aumento registrado nesta segunda, a ameaça crescente de interferência na Petrobras pode ser prejudicial para a bolsa brasileira nos próximos meses.
“O que nós tivemos hoje é uma melhora porque havia ocorrido queda anteriormente. Isso não quer dizer que não vá ocorrer queda ao longo dos próximos meses, até as eleições de outubro. Usar uma empresa estatal como instrumento de política econômica, nunca é uma boa ideia se você pensar a longo prazo”, analisa.
Na visão do também professor de economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Marcel Guedes Leite, uma suposta tentativa de interferência por parte do governo federal é impraticável. Mesmo com a mudança na presidência, o professor vê que não há a possibilidade da Petrobras extinguir a política de Preço de Paridade de Importação (PPI), adotada em 2016.
“Foi a terceira indicação do presidente e todas elas, no fundo, foram provocadas pela mesma situação, ou seja, uma Petrobras hoje que não pode atender às demandas políticas do governo. Você pode mudar à vontade o presidente da Petrobras, que os mecanismos hoje garantidos pelo estatuto da empresa não vão permitir que se faça uso político da Petrobras”, explica.
A principal barreira para a mudança na política de preços da petrolífera decorre da falta de aceitação dos acionistas da empresa para tomar tal atitude, segundo os analistas.
“Hoje você tem uma empresa com capital negociado nos Estados Unidos. 49,74% das ações dela são privadas. Ou seja, é uma empresa que atende à necessidade de mercado. Ela não pode atender às necessidades do governo de baixar o preço de combustível em detrimento do acionista”, comenta Leite.
O professor Antônio Carlos Alves de Santos também prevê complicações jurídicas se houver a mudança. “A gente não pode esquecer que, caso os acionistas (da Petrobras) residentes nos Estados Unidos se sintam prejudicados por uma política que não leve em consideração o valor do preço do combustível no mercado internacional, eles poderão recorrer à justiça”, lembrou.
*Estagiário sob a supervisão de Ronayre Nunes