Permitir o acesso, a presença e a visibilidade de travestis e transexuais no mercado formal de trabalho é um desafio em construção país. Um bom exemplo é a administradora de empresas Amanda Matricardi, de 27 anos. Ela encontrou reconhecimento profissional na área de logística por meio do site TransEmpregos, plataforma que facilita a colocação de travestis, mulheres transexuais e homens trans em empresas.
"Consegui meu primeiro estágio pelo site e passei a confiar ainda mais quando soube que representantes do TransEmprego faziam visitas às empresas que oferecem vagas para verificar as condições de trabalho anunciadas. Assim, retornei ao site para buscar um emprego efetivo, muito confiante, e consegui", explica Matricardi.
Criada em 2013, a plataforma fechou o ano passado com mais de 21,4 mil usuários transgêneros inscritos, quase 1,5 mil empresas parceiras e 797 pessoas empregadas. Muitas das vagas são para São Paulo, sede da iniciativa, mas com a possibilidade do trabalho remoto, as oportunidades se estendem a todo o país.
Moradora de Carapicuíba, na região metropolitana de São Paulo, Amanda também decidiu buscar qualificação durante a pandemia e conseguiu, também por meio do TransEmprego, um MBA em Supply Chain Management (Gestão da Cadeia de Suprimentos). "Consegui sobreviver na pandemia e prover a minha família e ainda ter acesso a um trabalho remoto, com muitas garantias", analisa.
A idealizadora do site é diretamente interessada no assunto. Primeira advogada trans do Brasil a exercer a profissão com nome social, Márcia Rocha, defende estratégias políticas para explorar questões importantes e urgentes. "Os direitos sexuais são temas pouco conhecidos no Brasil e vão além da questão LGBT. São temas que abordam a mulher e o machismo e o poder entre homens e mulheres", afirma ela, que pretende concorrer a uma vaga na Câmara dos Deputados por São Paulo.
Em 2017, Márcia Rocha recebeu a primeira certidão da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) São Paulo com o nome social. O pedido foi feito em 2014 e demorou três anos para que fosse reconhecido nas instâncias superiores. Suas opções, desde então, incluem ingressar ao Cidadania para disputar uma vaga na Câmara dos Deputados. "O interesse na política veio justamente por estar anos trabalhando com o tema dos direitos humanos e sexuais, mas a sigla conseguiu aprovar a criminalização da homotransfobia", diz.
Embora disponível para novos desafios, a travesti não pretende abandonar o projeto de inclusão. "Não adianta você contratar uma pessoa trans e a jogar aos leões. Tem que haver preparação, capacitação, para que haja respeito ao indivíduo como ser humano. Nós do TransEmpregos fazemos todo um trabalho de conscientização interna e capacitação de RH gratuitamente, mas também existem consultorias para ajudar empresas e escritórios", explica.
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