A economia brasileira deverá crescer apenas 0,6% em 2022, enquanto o avanço da economia mundial será de 3%, segundo estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgado nesta quarta-feira (8/6).
A alta da inflação, a guerra na Ucrânia, a lenta recuperação do mercado de trabalho e as incertezas políticas por conta das eleições presidenciais em outubro são alguns dos fatores que contribuem para a "desaceleração considerável" da atividade econômica no país, na avaliação da entidade.
Em seu estudo semestral com previsões para a economia mundial, a OCDE revisou para baixo as estimativas de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro em 2022. A previsão era de aumento de 1,4% no último relatório, divulgado em dezembro.
As projeções de expansão do PIB global neste ano também foram reduzidas de 4,5% para 3% em razão dos efeitos da invasão da Ucrânia pela Rússia. "O preço da guerra pode ser ainda mais elevado. O conflito afeta a distribuição de alimentos básicos e de energia, alimentando a alta da inflação em todo o mundo, ameaçando particularmente os países mais pobres", afirma a economista-chefe da OCDE, Laurence Boone, no documento.
A economia brasileira vai crescer menos em 2022 do que a de vários países da América Latina, como a Colômbia (6,1%), Argentina (3,6%) e México (1,9%), segundo as estimativas.
A OCDE ressalta que, apesar das exportações brasileiras de commodities estarem ganhando força, a inflação alta — que deve atingir 9,7% neste ano, nos cálculos da organização — entrava a expansão do consumo, afetando o desempenho da economia.
As eleições presidenciais acrescentam incertezas, contribuindo para manter os investimentos abaixo do potencial até o próximo ano, afirma o estudo. Em 2023, a economia brasileira deverá crescer 1,2%, prevê a OCDE.
Segundo a organização, em razão da deterioração do clima econômico no Brasil, as previsões de crescimento são limitadas neste ano e no próximo. A inflação e o aperto monetário, com aumento dos juros, restringem a demanda doméstica e externa. Além disso, os salários não estão se recuperando rápido o suficiente para compensar o fim do auxílio emergencial durante a pandemia e a alta nos preços, diz o estudo.
A inflação no Brasil deve começar a diminuir com o aperto monetário e a redução de incertezas após a eleição presidencial, mas voltará a aumentar no início de 2023, diz o relatório, quando o embargo europeu ao petróleo da Rússia entrar em vigor.
"A inflação no Brasil permanecerá alta em 2023 e não deve atingir a meta no horizonte de projeção", afirma o relatório divulgado nesta quarta.
Além disso, a prolongação da guerra na Ucrânia continuaria aumentando os custos dos insumos agrícolas, como fertilizantes, "restringindo severamente a produção agrícola e as exportações."
Para manter a sustentabilidade fiscal e o aumento das taxas de pobreza no país, o Brasil precisa, na avaliação da OCDE, dar continuidade a "reformas ambiciosas que foram iniciadas para melhorar a produtividade e o emprego."
Na avaliação da entidade com sede em Paris, gastos públicos mais eficientes permitiriam "fortalecer o quadro fiscal no médio prazo, o que criaria espaço para investimentos públicos produtivos e ajudas sociais bem direcionadas, além do reforço da confiança dos investidores."
"Como a guerra na Ucrânia levou a um aumento mais acentuado nos preços dos alimentos e da energia, reforçar o apoio por meio de programas sociais bem direcionados é fundamental para proteger os mais vulneráveis", diz o estudo.
Desmatamento
O estudo com previsões para a economia mundial foi divulgado na véspera da reunião ministerial anual da OCDE, onde o processo e as condições de adesão de novos membros, incluindo o Brasil, será discutido. O encontro terá a presença dos ministros da Economia, Paulo Guedes, e da Casa Civil, Ciro Nogueira.
As práticas e políticas ambientais do Brasil e dos demais candidatos integram as condições para a entrada na organização. Os aspectos que deverão ser cumpridos nesta área e em outros temas podem ser aprovados nesta reunião ministerial com representantes dos 38 países membros.
No estudo divulgado nesta quarta, a OCDE recomenda que o Brasil "reforce devidamente" as leis que impedem o desmatamento ilegal "para proteger recursos naturais como a Amazônia.
A OCDE também recomenda que o Brasil explore mais fontes alternativas de energia, como a eólica e a solar, e aumente investimentos em sistemas de transporte público, o que beneficiaria trabalhadores de baixa renda e reduziria ainda a poluição do ar e a dependência em relação a automóveis, diz o documento.
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