Em meio à aversão a risco externa, investidores locais avaliam a proposta do governo para conter a escalada dos preços dos combustíveis, que é vista com certa desconfiança. Isso porque não se sabe direito de onde sairão os recursos para bancar o plano e compensar a arrecadação de Estados e municípios, o que acaba por elevar preocupações fiscais, apesar da expectativa de alívio inflacionário no Brasil.
"Executivo e legislativo apresentaram proposta razoavelmente vazia retirada de ICMS de combustíveis, sem definir como irão ressarcir os governos estaduais de perdas de arrecadação", observa o economista Álvaro Bandeira.
A proposta do governo federal é cortar impostos (PIS/Confins e Cide) sobre a gasolina em troca da aprovação do PLP 18, que coloca teto de 17% sobre o ICMS dos combustíveis.
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"Paulo Guedes ministro da Economia disse que os recursos sairiam de verba extraordinária e a única venda é a da Eletrobras, que ainda nem aconteceu. Isso é complicado, o mercado não vê com bons olhos", avalia em comentário matinal a clientes e à imprensa o estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus.
Depois de cair, o Ibovespa passou a testar alta, retomando o nível dos 110 mil pontos da abertura. A tentativa é atribuída principalmente à alta das ações ligadas a commodities, com destaque para Petrobras, diante do entendimento de que a proposta do governo para conter o encarecimento dos combustíveis tira pressão sobre a política de preços da empresa. Porém, o movimento do índice Bovespa é claudicante, em meio ao recuo externo e temores locais.
"O risco fiscal está pegando. Com as eleições se aproximando, não só há preocupações com o fiscal de curto prazo, mas também como ficarão as contas públicas no próximo governo", avalia Rodrigo Knudsen, gestor da Vítreo, ao referir-se à prévia do programa de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), candidato a presidente da República, que formaliza, por exemplo, a revogação do teto de gastos.
Às 10h58, o Ibovespa cedia 0,15%, aos 110.021,60 pontos, ante mínima diária a 109.393,54 pontos (-0,72%) e máxima a 110.435,02 pontos (alta de 0,23%). Petrobras subia 2,44% (PN) e 1,78% (ON).
Há queda das bolsas europeias e norte-americanas. "O mundo segue de olho na questão inflacionária, na escalada de juros para conter a alta dos preços. Esse remédio que é bem custoso e não sabemos no que resultará", avalia Rafael Germano, especialista em renda variável da Blue3, destacando a decisão do Banco Central da Austrália de elevar a taxa básica de juros de 0,35% para 0,85% ao ano. "E a T-note de 10 anos voltou a render mais de 3% ao ano, indicando juro elevado, o que suga a liquidez. Agora, fica a expectativa pelo BCE", completa Germano.
Apesar de o petróleo operar com instabilidade, a cotação do tipo Brent está na faixa dos US$ 120 por barril e o minério fechou em alta no porto chinês de Quingdao. No entanto, caiu em Dalian. De todo modo, os níveis das commodities ainda seguem elevados, o que atenua expectativa de queda do Ibovespa, mas eleva percepção de mais inflação.
Ontem, o índice Bovespa fechou ontem em baixa de 0,82%, aos 110.185,91 pontos. Bandeira considera perigosa a volta do Ibovespa para esta faixa, destacando que se piorar, tende a ir para a zona de suporte importante dos 109 mil pontos e, em caso de perda deste nível, precipitar mais o mercado.
Em meio ao quadro alto de inflação e atividade fraca no mundo, crescem as expectativas para a reunião de política monetária do Banco Central Europeu (BCE), nesta quinta-feira, do Federal Reserve e do Comitê de Política Monetária (Copom) na semana que vem.
Hoje as encomendas da indústria da Alemanha surpreenderam negativamente, aos mostrarem queda em vez de alta, aumentando as pressões sobre o BCE, o único dentre as grandes instituições que não começaram a subir juros.
"O viés de preocupação com o nível de atividade advindo da Europa traz a bolsa para o terreno negativo na abertura. A aversão a risco contamina o mercado de cambial e os juros sofrem pressões de alta à medida que o mercado digere o documento divulgado ontem pelo PT e a medida que nos aproximamos no IPCA sai na quinta", avalia nota da CM Capital.