ECONOMIA E SOCIEDADE

Bolsa deve ter queda em reação a alta dos juros, dizem especialistas

Esse foi o 11º reajuste consecutivo da taxa de juros, que está no maior nível desde janeiro de 2017, quando estava em 13,75% ao ano

Rafaela Gonçalves
postado em 16/06/2022 23:42 / atualizado em 16/06/2022 23:43
O mercado já vem trabalhando com uma projeção da Selic a 13,75% até o final do ano -  (crédito: Reprodução)
O mercado já vem trabalhando com uma projeção da Selic a 13,75% até o final do ano - (crédito: Reprodução)

A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), que elevou a taxa básica de juros (Selic) de 12,75% para 13,25% ao ano, vai repercutir no mercado nesta sexta-feira (17/5). Segundo os analistas, apesar da alta já precificada, o anúncio feito após o encerramento do último pregão deve gerar uma queda no Ibovespa, principal índice da bolsa de valores de São Paulo (B3).

“Haverá uma desvalorização principalmente dos papéis mais voláteis e dos ativos que compõem a B3. Isso deve impactar principalmente nas commodities como aço, minério de ferro e o próprio petróleo. A Petrobras e os bancos também são uma parte considerável do índice da bolsa”, avaliou o economista da G2W Investimentos, Ciro de Avelar.

Esse foi o 11º reajuste consecutivo da taxa de juros, que está no maior nível desde janeiro de 2017, quando estava em 13,75% ao ano. Apesar da alta, o Banco Central reduziu o ritmo do aperto monetário, depois de dois aumentos seguidos de 1 ponto percentual, a taxa foi elevada em 0,5 ponto.

Em geral, juros mais altos desestimulam a economia pelo lado da demanda ao mesmo tempo que suavizam a inflação. Com o crédito mais caro, a pessoa física tende a reduzir gastos. Um efeito dominó, com custo financeiro ainda maior para as empresas, que contraem os investimentos e geram menos empregos, tirando também dinheiro de circulação.

Segundo o economista da G2W, a renda fixa tende a ficar mais atrativa com as ações desvalorizando. “Vai haver uma rotação do fluxo de dinheiro saindo da bolsa, da renda variável, e indo para títulos de renda fixa, que pagam pelo menos já 13,25% ao ano. Ou seja, já é possível conseguir 1% ao mês novamente com essa nova taxa Selic”, disse Avelar.

O comunicado do Copom sinalizou que deve haver uma alta da mesma magnitude na próxima reunião. Com isso, o mercado já vem trabalhando com uma projeção da Selic a 13,75% até o final do ano. Mas segundo o analista da Valor Investimentos, Wagner Varejão, muita coisa ainda pode atrapalhar esse cenário. “Esse novo projeto do governo de tirar imposto do combustível é arriscado do ponto de vista fiscal, o que exigiria um juro mais alto. Essa certamente é uma variável importantíssima. Além da dinâmica da inflação, até onde vai ter que subir juros para equilibrar".

Cenário internacional

A política monetária está apertada ao redor do mundo. O Federal Reserve (Banco Central americano) elevou os juros dos Estados Unidos em 0,75 ponto porcentual, na maior alta desde 1994. Em meio à persistência da inflação alta no Reino Unido, o Banco da Inglaterra (BoE) também decidiu elevar sua taxa básica de juros pela quinta vez consecutiva, em 25 pontos-base, para 1,25% ao ano.

Quando os juros sobem a tendência é de saída de investimentos de países emergentes, com os investidores buscando a segurança e rentabilidade. O especialista em Finanças e Economia Rodrigo Simões pontuou que o efeito da alta não é imediato. “Essa política de elevação de juros para combater a inflação terá impacto na atividade econômica junto a possíveis decisões de retirada de liquidez do mercado pelo Fed, onde poderemos ver mais projeções de quedas real do PIB americano nos próximos períodos”, pontuou.

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