Mesmo com descontentamento crescente dos caminhoneiros com o governo, parte da categoria ainda apoia o presidente Jair Bolsonaro (PL). Contudo, de acordo com um dos líderes da categoria, Wallace Landim, conhecido como Chorão, uma nova paralisação não foi descartada, mas pois os preços seguem subindo.
Chorão contou à reportagem do Correio que, em razão da crise econômica vivenciada no Brasil, os caminhoneiros não querem fazer uma greve. “Mas com a situação em que o país está, e piorando cada vez mais, somos obrigados a fazer uma paralisação”, disse. Segundo ele, uma parte da categoria já está parando devido à falta de condições.
De acordo com Landim, uma parte da categoria não apoia a greve, porque não quer se posicionar contra Bolsonaro. “Mas a nossa luta não é contra o governo em si, eu mesmo fiz campanha para o presidente, votei nele”, declarou. “Na realidade, nós estamos cobrando que o chefe da Nação chame a responsabilidade dos preços dos combustíveis para ele mesmo”, disse.
“Quando o Bolsonaro estava concorrendo a presidente, ele tinha uma narrativa de que era realmente necessário mexer na política de preço da Petrobras, mas, quando ele entrou e sentou na cadeira, mudou o discurso”, afirmou Chorão. “A gente vem acompanhando a transferência de responsabilidade — tirando a culpa dele e colocando no Ministro de Minas e Energia e na própria Petrobras. Enquanto isso o povo fica sofrendo”, continuou.
Segundo Chorão, a categoria não está mais suportando: “O pobre está cada vez ficando mais pobre, e não tem mais o poder de compra”.
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Greve ou Paralisação?
O caminhoneiro Gustavo Ávila explicou que os grupos dos quais grande parte da categoria faz parte “estão impossíveis de acompanhar”. “Os caminhoneiros têm reclamado muito dos custos. A situação está insustentável. Não tem como trabalhar assim, apenas se quiser ter prejuízo."
De acordo com Ávila, a categoria está pagando para trabalhar, pois os custos dos caminhoneiros, contando com a manutenção, cresceram muito. “Eu mesmo fiz uma entrega na semana passada, e meu lucro veio R$ 250 negativos. Mesmo fazendo uma boa negociação com as transportadoras, não dá para continuar”, lamentou.
“Independentemente se um dos líderes mandar, planejar uma greve ou não, a categoria vai ter que parar por falta de condição”, afirmou o caminhoneiro. Ávila comentou, contudo, que acredita na possibilidade de uma nova paralisação, mas não de uma greve. “Hoje, a situação está muito pior do que em 2018, porém há uma parte da categoria que não para porque acha que isso seria ir contra o presidente”, pontuou.
O vilão
Para Chorão, o grande vilão hoje é o preço de paridade de importação (PPI). “Nosso erro em 2018 foi não ter pedido a retirada desse PPI. Minha pauta na época foi essa, porém a força do movimento foi se perdendo. Até então a sociedade vinha junto com a esperança de a gente reduzir o preço do combustível e do gás de cozinha, que já estava sendo afetado pelo PPI”, explicou. Gustavo Ávila concordou: “Nosso prejuízo hoje é esse preço de paridade que o ex-presidente Temer colocou, pois com o dólar lá em cima, aqui o preço fica apenas subindo”.