O Brasil precisará qualificar 9,6 milhões de pessoas em ocupações industriais até 2025. Desse total, 79% necessitarão de formação continuada (aperfeiçoamento), e 21%, de formação inicial. Os dados são do Mapa do Trabalho Industrial 2022-2025, levantamento realizado pelo Observatório Nacional da Indústria. O setor deve oferecer 497 mil novas vagas formais nos próximos quatro anos.
O estudo observa que o mercado de trabalho passa por uma transformação em decorrência do uso de novas tecnologias e mudanças na cadeia produtiva. A área em que o fenômeno pode ser observado com mais intensidade é de empregos transversais, que permitem ao profissional atuar em diferentes segmentos. Em seguida, aparecem metalmecânica, construção, logística e transporte, e alimentos e bebidas.
A especialista em Mercado de Trabalho da CNI (Confederação Nacional da Indústria) Anaely Machado explica que investir na qualificação de profissionais já inseridos nas empresas custa menos do que arcar com uma formação inicial. "Mas é mais uma questão de manter esses profissionais empregados. Com o avanço da tecnologia, o que você aprende no ensino superior não pode ser a última coisa que você estuda na vida, porque a realidade vai mudando. Então, essa qualificação não é para substituir a formação que você já tem, é um complemento."
Para Anaely, as empresas têm um papel tão importante quanto os funcionários na hora de buscar qualificação: "É algo que vem dos dois lados, até porque contratar novos funcionários, mais jovens, com uma formação mais recente não vai garantir que eles consigam suprir as demandas da empresa. Com o aperfeiçoamento contínuo, a produtividade aumenta, o que gera crescimento econômico lá na frente".
Giácomo Balbinotto, professor de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e especialista em mercado de trabalho, diz que a qualificação de profissionais nos próximos anos será fundamental para a retomada do crescimento econômico brasileiro e aumento da competitividade internacional.
"É um dos pilares que confere diferenciais e eleva a competitividade de qualquer empresa. Os funcionários em posições estratégicas vão aumentar significativamente a produtividade. Então, o investimento que as empresas fazem na qualificação e treinamento será fundamental", avaliou.
O aumento de exigências vem sendo observado na Bruning Tecnometal, do ramo de metalmecânica. O diretor da empresa, Reno Schmidt, disse que, para garantir que os funcionários estejam sempre atualizados, a organização tem trabalhado junto a instituições educacionais para aproximar os currículos escolares às demandas da indústria.
"Dentro de nosso centro de treinamento, desenvolvemos a universidade corporativa Bruning para qualificar os profissionais que estão sendo contratados e os que já fazem parte dos nossos quadros. Investimos R$ 3,3 milhões em 2021 somente em formação de profissionais. Temos visto movimentos semelhantes de outras empresas", afirmou.
Lucas Costa, 23, dono da D'Lucca confeitaria também acredita que manter-se atualizado é essencial: "O mercado nunca é o mesmo, ainda mais para a indústria de alimentos, inclusive a confeitaria. Nós seguimos tendências, novas técnicas são criadas todos os dias e se atualizar é o melhor caminho, senão a gente acaba ficando para trás".
Ele conta que recentemente precisou contratar um novo funcionário e, durante o processo seletivo, notou que um dos candidatos não sabia fazer bolos condizentes com as tendências. "Vagas sempre terão, mas eu creio que o desemprego no Brasil é muito mais sobre a falta de capacitação do que a falta de oportunidade", pondera o empresário.