Gigante da internet, o Twitter tropeçou ontem. Ações da empresa caíram quase 20% após o bilionário Elon Musk suspender o acordo para comprar a rede social. Em março, o Musk adquiriu 9,2% das ações da empresa e, poucas semanas depois, anunciou um acordo de compra da empresa, por US$ 44 bilhões. Ontem, Elon Musk recuou. Disse que a negociação está temporariamente suspensa — apesar de se manter "comprometido" com a transação.
Ele apontou o problema que estaria emperrando a transação. "O acordo para a compra do Twitter está temporariamente suspenso por pendências em detalhes que sustentam que contas falsas de fato representam 5% dos usuários", escreveu no próprio Twitter. Depois de duas horas, publicou: "Ainda comprometido com a compra".
Há tempos Musk critica a presença de "contas falsas na plataforma". O homem mais rico do mundo já disse que eliminar bots (robôs) e contas que disparam milhares de mensagens será uma de suas prioridades como dono da rede social.
Ontem, as ações da rede social desabaram na bolsa dos Estados Unidos. A incerteza veio se juntar à preocupação dos investidores da Tesla, fabricante de veículos elétricos pertencente a Musk. Eles temem que o megaempresário venda ações da montadora para honrar o aporte no Twitter.
O economista Eduardo Chagas, analista-chefe da Gladius, ressalta dois pontos sobre a decisão de Musk suspender o diálogo com o Twitter. "A oferta de Musk era de cada compra ser US$ 54,20. Esse pagaria esse valor a todos os acionistas para fechar o capital da empresa", explicou. "Com ele suspendendo essa compra temporariamente, e deixando dúvidas de se ela realmente vai acontecer, isso derruba o preço da ação", observou.
O segundo ponto, afirma Chagas, "é que os resultados do Twitter já não estavam tão legais, com várias dúvidas sobre a rede de usuário, de ser do tamanho que eles alegam ser, devido ao número de bots e contas fakes".
Segundo o economista, o mercado já notava um número de usuários superestimado. "Mesmo com uma multa de US$ 1 bilhão, caso Musk não realize a compra, ainda pode ser interessante para ele fazer essa retirada, caso esses números de usuários realmente estejam superestimados", comentou.
O professor livre-docente da Unifesp Álvaro Machado Dias, neurocientista e futurista, vê outros aspectos. Ele explica que o Twitter usa como métrica principal para o seu potencial comercial a chamada mDAU — que em português pode ser lido como usuários diários monetizáveis. "Efetivamente, a empresa inflou o mDAU por anos", disse. "Musk conduziu o processo de verificação da integridade dos dados financeiros e operacionais da companhia (chamado de due diligence) de maneira singularmente apressada, amadora", afirmou.
"Outra possibilidade, que me parece mais razoável, é que o processo conduzido às pressas foi parte de uma estratégia para alegar que um "evento material adverso" (como são chamadas essas surpresas na aquisição de um negócio). Ele travou a negociação e começou a rediscutir o valor da companhia a ser adquirida. Não seria uma novidade no mundo dos negócios" apontou.
O Twitter tem mais de 217 milhões de usuários e foi criado em 2006. (*Estagiária sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza)