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Aplicações em renda fixa ganham espaço no mercado

Elevação da taxa Selic aumenta a atratividade das aplicações mais conservadoras, mas poupança perde para fundos. Segundo analistas, juros altos, inflação de dois dígitos e economia fraca desaconselham aplicações de risco, como ações

Após o Banco Central aumentar a taxa básica da economia (Selic) pela 10ª vez consecutiva, de 11,75% para 12,75% ao ano, na última quarta-feira, o investidor precisa ficar atento às aplicações em renda fixa. Elas estão dando um banho na poupança — que há tempos vem perdendo para a inflação —, e, agora, também no mercado de ações, que é mais arriscado e praticamente zerou os ganhos do ano, ontem, acumulando alta de apenas 0,46% desde janeiro no Índice Bovespa, principal indicador da Bolsa de Valores de São Paulo (B3).

A tendência é de ganhos ainda maiores na renda fixa diante da perspectiva de que a inflação de dois dígitos não será temporária, de acordo com analistas. O banco francês BNP Paribas, por exemplo, recentemente revisou de 8,5% para 10% a previsão de inflação no fim do ano — o dobro do teto da meta, de 5%. Vale lembrar que a atual mediana das estimativas do mercado para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial, no boletim Focus do Banco Central, está em 7,89%, vem subindo há 16 semanas seguidas e não deve parar por aí. Especialistas não descartam a Selic acima dos 13,25% anuais previstos no Focus. Alguns apostam em 13,50% no fim deste ano, como estima a MB Associados, e acima de 14%, como prevê o BNP.

Laiz Carvalho, economista para Brasil do BNP Paribas, ao analisar o comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, divulgado após a alta da Selic para 12,75%, disse que os cenários traçados pelo BC “são muito otimistas” e, como o Copom continua reiterando a preocupação com a inflação, “o ciclo de alta da taxa Selic precisará se estender por um horizonte um pouco maior do que se esperava”. Ela reforçou que o banco francês prevê aumentos no IPCA de 10%, neste ano, e de 5%, em 2023 — quando o teto da meta é menor, de 4,75%. Não à toa, a previsão do BNP para a Selic é de 14,25%, neste ano, e de 10,50%, em 2023.

Com um cenário nada favorável para a atividade econômica por conta dos juros em alta e perspectiva de inflação de dois dígitos até o fim do ano, os investimentos em renda fixa indexados à inflação e ao Certificado de Depósito Interbancário (CDI), que é atrelado à Selic, ganham da Bolsa, do dólar, do ouro e até da bitcoin no acumulado do ano, conforme levantamento feito pela Economática, a pedido do Correio.

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“Agora, mesmo com taxas de administração de até 2% e Imposto de Renda de 22,5% para aplicações de até seis meses, os fundos de renda fixa já têm rendimento acima da poupança”, destacou Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor executivo de Estudos e Pesquisas Econômicas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças e Contabilidade (Anefac).

Oliveira fez um levantamento comparando os rendimentos de fundos atrelados à Selic com a poupança, cuja rentabilidade atual é de 0,60% ao mês, considerando a remuneração anual de 6,17% mais a Taxa Referencial (TR), versus a nova taxa de 12,75% ao ano.

“Na medida que a Selic aumenta, cresce a vantagem dos fundos de renda fixa sobre a poupança. No atual cenário, as expectativas são de novas altas na Selic, porque a inflação continua resistente. Com isso, o ganho da renda fixa sobre a poupança tende a aumentar. Atualmente, a poupança só não perde para aplicações de curtíssimo prazo com taxas de administração acima de 2,5% ao ano”, disse.

De acordo com Oliveira, o ambiente atual é de muita incerteza, com guerra na Ucrânia e inflação e juros altos no mundo todo. Nesta semana o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) elevou os juros em 0,50 ponto percentual e sinalizou novos reajustes da mesma magnitude ao longo deste ano e, provavelmente, do próximo, o que deve afetar, e muito, as bolsas internacionais.

“A Bolsa precisa da economia crescendo, gerando lucro para as empresas e renda para os empregados. Agora, é hora de aproveitar a renda fixa, que é muito mais segura do que assumir o risco na Bolsa de Valores”, afirmou. O economista frisou ainda que o momento é de fugir do risco, menos para quem já está na Bolsa, “senão vai realizar prejuízo”.