Com queda na oferta e o aumento da demanda de combustíveis no exterior, o Brasil corre o risco de enfrentar desabastecimento de óleo diesel nos próximos meses, de acordo com o alerta emitido pelo ainda presidente da Petrobras, José Mauro Ferreira Coelho, em carta enviada ao presidente Jair Bolsonaro (PL) e ao Ministério de Minas e Energia. O Brasil importa cerca de um terço do diesel que consome.
O assunto foi debatido no Conselho de Administração da Petrobras na terça-feira passada, com a perspectiva de o Brasil sofrer desabastecimento de diesel no segundo semestre. Os conselheiros decidiram alertar o governo sobre a urgência de um plano para um racionamento emergencial do combustível, que está com alta demanda no mercado internacional, e sugerir à ANP que comande as ações do setor. A discussão incluiu levar ao Poder Executivo uma proposta de racionalização do diesel, priorizando os serviços de ambulâncias, transporte de grãos e de alimentos.
O alerta levou o Ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, a se reunir, ontem, com membros do Comitê Setorial de Monitoramento do Suprimento Nacional de Combustíveis e Biocombustíveis. O MME confirmou a reunião, que teve a participação de representantes da Agência Nacional do Petróleo (ANP) e da Petrobras, membros do comitê. No entanto, a pasta afastou o risco de desabastecimento. "De acordo com os dados mais recentes consolidados pelo Comitê, os estoques de óleo diesel S10 representam 38 dias de importação. Em outras palavras, se as importações desse combustível fossem cessadas hoje, os estoques, em conjunto com a produção nacional, seriam suficientes para suprir o país por 38 dias", informou o MME, em nota.
A ANP enviou nota ao Correio em que informa atuar para se antecipar aos riscos ao abastecimento nacional de óleo diesel que, neste momento, ocorre com regularidade. "Representantes da agência mantêm contato permanente com os agentes do setor e seguem atentos a todos os fatores que podem interferir no abastecimento de diesel. A agência está dedicada a propor as medidas necessárias para garantir a oferta do produto", diz o comunicado.
Preços
A discussão sobre a oferta de diesel ocorre no momento em que a Petrobras sofre pressões para conter a alta do preço dos combustíveis. Segundo fontes ligadas à estatal, a produção da empresa só consegue abastecer metade do mercado de diesel no país. Se os preços não forem alinhados ao mercado internacional, conforme vem sendo defendido pela companhia, pode haver falta de produto.
De acordo com a Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom), que reúne empresas privadas, os preços do diesel praticados hoje no país registram defasagem de R$ 0,14 a R$ 0,23 por litro, a depender do porto de operação.
Um "racionamento seletivo" de diesel já está ocorrendo, segundo Paulo Miranda, ex-presidente da Fecombustíveis. De acordo com ele, nos postos com bandeira (com a marca das distribuidoras) não há ameaça de desabastecimento, mas os postos de bandeira branca (sem marca) têm problemas para adquirir diesel.
Greve
Em meio à incerteza e aos preços altos do combustível, caminhoneiros estão exigindo respostas do governo federal para evitar o desabastecimento. No próximo dia 11, líderes da categoria se reunirão no 6º Encontro Nacional da classe para debater uma greve nacional. "Estamos falando sobre isso o tempo todo porque os caminhoneiros estão ficando sem condições de trabalhar e de manter suas famílias", disse Wallace Landim, conhecido como Chorão, uma das lideranças do setor.
Deyvid Bacelar, coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), afirmou que o risco de desabastecimento poderia ser evitado se a Petrobras não tivesse adotado a política de reduzir a capacidade de utilização das refinarias e não concluir obras importantes no setor.
"Com a política de encolhimento do refino interno, o Brasil, apesar de ser autossuficiente na produção de petróleo, importa cerca de 25% das necessidades de diesel e fica à mercê do fornecedor lá fora. Cerca de 80% do diesel importado é fornecido pelos Estados Unidos, que, com a guerra na Ucrânia, estão mandando mais produto para a Europa, em detrimento do Brasil", disse.
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