PETROBRAS

Guedes ganha aliados no governo, mas rifa cartilha liberal

Ministro da Economia vê ex-colaboradores em postos-chave, porém aceita decisões consideradas populistas para garantir a reeleição do presidente

Rosana Hessel
postado em 25/05/2022 05:59 / atualizado em 25/05/2022 06:00
 (crédito: Isac Nobrega/PR)
(crédito: Isac Nobrega/PR)

Embora Caio Paes de Andrade, indicado para a presidência da Petrobras, pertença aos quadros do Ministério da Economia, o mercado não está convencido de que o ministro Paulo Guedes tenha se fortalecido com a mudança anunciada na estatal. Para analistas, não está claro se o discurso liberal de Guedes de que não haveria alterações na política de preços da estatal será preservado em meio às tentativas do presidente Jair Bolsonaro (PL) de segurar o preço dos combustíveis, de olho nas eleições de outubro. Pelo contrário.

Há duas semanas, outro colaborador de Guedes, o economista Adolfo Sachsida, ex-assessor Especial de Assuntos Estratégicos da Economia, assumiu o Ministério de Minas e Energia (MME), em substituição ao almirante Bento Albuquerque. Apesar disso, e do discurso alinhado contra subsídios aos preços dos combustíveis, analistas observam que Guedes tem aceitado um espaçamento maior para os reajustes do diesel, da gasolina e do gás de cozinha. Seria um sinal de que vencer a eleição é mais importante do que aplicar a cartilha liberal, que prescreve liberdade de preços. Eles lembram que Bolsonaro nunca foi um liberal e que Sachsida, na verdade, é mais próximo do presidente do que de Guedes, pois entrou bem antes do ex-chefe na campanha eleitoral de 2018.

A mudança na Petrobras é resultado da inflação elevada, que roda acima de 10% desde setembro de 2021, em grande parte, devido à alta dos preços dos combustíveis, que tem incomodado Bolsonaro e os planos de reeleição. O presidente não esconde a insatisfação com a atual política de preços da estatal e vinha pedindo para que os presidentes anteriores da empresa, segurassem um pouco mais o reajuste. Andrade, se for aprovado pelo Conselho de Administração da Petrobras, será o quarto presidente da petroleira no atual governo.

"Havia uma expectativa de que Sachsida faria alguma mudança na política de preços, mas a troca da presidência em tão pouco tempo acabou sendo uma surpresa. No fim do dia, a queda das ações da Petrobras acabou diminuindo, porque a Bolsa brasileira está tão descontada que alguns operadores aproveitaram o preço mais baixo para comprar ações", destacou Alexandre Espirito Santo, economista-chefe da Órama. Apesar de abrir o pregão da Bolsa de Valores de São Paulo (B3) em forte queda, as ações da Petrobras encerraram o dia com baixa em torno de 3%.

Julio Hegedus, economista-chefe da Mirae Asset, lamentou o novo troca-troca na Petrobras. "Em tese, Guedes sai fortalecido, mas pelos motivos ou objetivos errados: ficar trocando o presidente da Petrobras para segurar preços de combustível, como se fosse apenas um ato político", resumiu. De acordo com ele, o mercado avaliou a nova substituição de forma negativa, porque a interpretação é de uma interferência na estatal e na política de de paridade com a cotação do petróleo no mercado internacional.

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