Ao trocar o comando da Petrobras pela quarta vez, o presidente Jair Bolsonaro (PL) dá uma nova cartada para tentar segurar a disparada dos preços dos combustíveis em um movimento bem parecido com o que fez a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) para garantir a reeleição, em 2014. Naquela época, os reajustes dos combustíveis e da energia elétrica foram represados e houve interferência no câmbio. As medidas não se sustentaram e a necessidade de correção dos preços acabou levando a inflação para 10,67% em 2015.
Na avaliação de agentes financeiros, a atual política de preços internacionais da estatal, a polêmica PPI, está com os dias contados e será modificada. As sinalizações do governo e do novo ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, são de que haverá um período maior para o reajuste dos preços dos combustíveis, de três meses a 100 dias.
Contudo, eles lembram que o dólar, que voltou a cair frente ao real devido à desaceleração global, tem ajudado a reduzir a defasagem dos preços praticados no mercado doméstico com os internacionais. Conforme dados da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), a defasagem média estava ontem em 1% para o óleo diesel, e em 2% para a gasolina, considerando o dólar a R$ 4,79 e o barril do petróleo tipo Brent negociado acima de US$ 110.
Julio Hegedus, economista-chefe da Mirae Asset, ressaltou que a troca do comando da Petrobras é um movimento de Bolsonaro muito parecido com o de Dilma. "Sim, totalmente. Mais um movimento populista e irresponsável", lamentou. Ele reforçou que o mercado tem reagido mal à possibilidade de um espaçamento nos reajustes em torno de 100 dias.
Eduardo Velho, economista-chefe da JF Trust Gestora de Recursos, destacou que, por enquanto, o governo ainda não partiu para o congelamento de preços, como fez Dilma. "Nesses quatro anos de governo, não podemos afirmar que houve interferência na política de preços da Petrobras. Mas aumentou a probabilidade do 'cenário Dilmês', embora não seja momento de ficar especulando", afirmou Velho. Ele considerou a reação do mercado exagerada, mas alertou que um congelamento de preços poderá gerar problemas futuros para quem estiver no poder em 2023, "seja quem for o vencedor das eleições".
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