Diante da nova onda da covid-19 na China, os indicadores recentes confirmam que a atividade econômica da segunda potência global está desacelerando, mas os mercados financeiros reagiram com sinais trocados.
O governo chinês tem fechado cidades inteiras e o resultado, por exemplo, foi o tombo de 11,1% das vendas do varejo em abril, de acordo com números divulgados, ontem, pelo Escritório Nacional de Estatísticas (NDB, na sigla em inglês). A produção industrial chinesa recuou 2,9% em abril, na comparação anual, dado pior do que o esperado pelo mercado, que previam avanço de pelo menos 0,4% depois da alta de 5% em março. As vendas de moradias no país asiático desabaram 32,2% no primeiro quadrimestre em relação ao mesmo período de 2021. Já os investimentos, apesar de crescerem, reduziram o ritmo e o desemprego subiu para 6,1%.
Mesmo com esses dados pouco animadores, parte do mercado tentou se animar com a reabertura gradual do comércio em Xangai, ontem. Pela manhã, em Nova York, o Índice Nasdaq, das empresas de tecnologia, operava no vermelho e fechou com queda acima de 1%. Enquanto isso, o Índice Dow Jones, das companhias da velha economia, ficou no azul e fechou com leve alta de 0,1%. Já o Índice Bovespa, principal indicador da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), operou no campo positivo e encerrou o dia com a quarta alta consecutiva, contrariando o consenso de que a desaceleração da China, maior parceiro comercial do Brasil, será ruim para a economia brasileira. O IBovespa encerrou o pregão de ontem com alta de 1,22%, a 108.232 pontos.
“De fato o sinal seria negativo, mas as commodities tiveram um início de semana positivo mesmo com os números ruins da China. E a Bolsa vem esboçando uma reação desde a semana passada, corrigindo parte das fortes quedas recentes”, explicou o economista Silvio Campos Neto, sócio da Tendências Consultoria. “Além das commodities, pode estar ajudando a percepção de que a economia local está um tanto melhor do que era avaliado até recentemente”, acrescentou.
Campos Neto reconheceu, no entanto, que as perspectivas não são animadoras para a economia brasileira se a China sofrer a desaceleração que o mercado está esperando, de 2% a 2,5%, bem abaixo da meta de 5,5% prevista inicialmente pelo governo chinês. “A Bolsa estava muito descontada e a melhora das projeções de crescimento fazem alguma diferença de qualquer forma. A questão das commodities é mais delicada. A guerra faz força altista, mas a desaceleração global e o dólar forte pesam pra baixo mesmo”, acrescentou.
Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, destacou que a alta da B3 é explicada, em parte, devido à falta de mais indicadores do mercado. O Banco Central não divulgou os dados do boletim Focus, que tem as projeções macroeconômicas do mercado, nesta semana, devido à greve dos servidores da autoridade monetária. “Os mercados se dividiram. Parte preocupada com indicadores da China, enquanto outra olhou o copo meio cheio com a retirada de algumas restrições em Xangai”, disse.
Em relação aos sinais trocados das bolsas de Nova York, Cruz avaliou que as empresas de tecnologia deverão passar por meses difíceis adiante, “até ficar claro o ponto final da alta de juros americana”.
Julio Hegedus, economista-chefe da Mirae Asset, destacou que, além do aperto monetário em curso do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos, está havendo uma correção dos preços no mercado. “A Bolsa está subindo porque caiu demais recentemente. Há de se considerar a boa perspectiva com o abrandamento do lockdown na China”, afirmou. Ele lembrou ainda que a queda na Nasdaq, está relacionada aos resultados das empresas de tecnologia que não estão sendo muito animadores, como a Roblox, uma das empresas que liderou a moda inicial do metaverso em 2021.
Hegedus ressaltou ainda que há a perspectiva de novas quedas nas ações do Twitter, já que o empresário Elon Musk anunciou a suspensão temporária do acordo de compra.
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