Apesar da iniciativa do governo Bolsonaro de colocar a privatização da Petrobras sob os holofotes, analistas consideram o gesto apenas uma sinalização para o mercado e para o eleitorado. Qualquer medida mais concreta nesse sentido ficaria apenas para o próximo ano.
O novo ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, em seu primeiro ato como titular da pasta, anunciou, ao lado do ministro da Economia, Paulo Guedes, que enviaria ao presidente Jair Bolsonaro (PL) a solicitação formal para que se inicie os estudos que visam a desestatização da Petrobras e da Pré-Sal Petróleo S.A. (PPSA).
"Espero que no período de tempo mais rápido possível, levaremos ao presidente da República, Jair Bolsonaro, assinar esse decreto e libertar o povo brasileiro", declarou Sachsida após entregar o documento a Guedes.
O anúncio do governo pouco repercutiu entre os investidores. As ações ordinárias da Petrobras registraram uma ligeira alta de 0,38%, enquanto as preferenciais subiram 0,77%. O Ibovespa (índice de referência da bolsa de valores) marcou alta de 0,59%. Frederico Gomes, economista do Ibmec, afirmou que os investidores avaliam o anúncio com desconfiança. "Acham que é um artifício para desviar a atenção dos problemas do governo e que a probabilidade é baixa, mesmo que haja a reeleição do presidente", comentou.
André César, cientista político e sócio da Hold Assessoria Legislativa, disse que o governo quer desviar as atenções. "Bolsonaro sabe que não há ambiente político nem tempo hábil por causa das eleições. Este é um movimento político ao eleitorado e aos simpatizantes para dizer que o governo está fazendo algo para estancar a alta dos combustíveis", acrescentou.
Já o economista Calebe Vieira acredita que os investidores olham qualquer sinalização para a privatização da Petrobras de forma positiva. "A Petrobras, se for privatizada, seu valor de mercado sobe muito, pois a empresa trabalhará para gerar bons dividendos aos acionistas", explicou. Ele destacou que o tema, complexo, não será resolvido no ano eleitoral. Mas é uma sinalização aos investidores.
Segundo Nauê de Azevedo, cientista político e advogado, a Petrobras não é uma estatal simples de ser privatizada, não só pela sua complexidade operacional, mas pelo seu valor. "A empresa vale mais de R$ 400 bilhões, já que há muito potencial arrecadatório e de impacto na vida dos cidadãos", disse. A empresa já distribuiu mais de R$ 440 bilhões em dividendos para o governo federal desde 2019.
A resistência à privatização ficou evidente na coletiva dos ministros. Em meio ao anúncio do estudo, o ministro Paulo Guedes rebateu críticas de representantes do Sindisep-DF. Ao ouvir o anúncio, o grupo chamou a medida de "mais um golpe contra o Brasil".
Paulo Guedes retrucou. "Eu não quero falar de quem roubou a Petrobras. Eu quero receber como um programa de governo que teve 60 milhões de votos um novo pedido do ministro de Minas e Energia e encaminhar o processo", afirmou.
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