O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, criticou a falta de autonomia na instituição durante sessão solene do Senado Federal em homenagem aos 105 anos de seu avô, o ex-deputado federal e ex-ministro Roberto de Oliveira Campos. Falecido em 2001, o ex-ministro foi um dos idealizadores do BC e do BNDES.
De acordo com Campos Neto, o modelo aprovado pelo Congresso Nacional e sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), que concedeu autonomia operacional ao Banco Central é insuficiente e gera dificuldades no dia a dia da autarquia.
Para o presidente do BC, a instituição deveria ser também independente nas esferas financeira e administrativa, modelo idealizado por seu avô na criação do BC, em 1964. A autonomia nas três frentes durou apenas até 1967. Sem as autonomias financeira e administrativa, o BC não pode, por exemplo, dar reajuste salarial aos funcionários. Mesmo que possua verba para tal, a decisão cabe ao governo federal.
"A lei 4.595, de 1964, criou o Banco Central e garantiu autonomia operacional, financeira e administrativa, inclusive com mandatos fixos para seus presidentes e diretores. Infelizmente, essa autonomia, que é moderna até para os padrões de hoje, durou apenas até 1967", disse Campos Neto.
A declaração ocorre em meio a uma crise envolvendo servidores do BC, que chegaram a entrar em greve em 1º de abril, mas suspenderam o movimento após reunião com Campos Neto. Entretanto, os funcionários seguem realizando paralisações e trabalhando na chamada "operação-padrão".
"Olhando as notas do meu avô do período, ele explicava a importância das autonomias, bem como o que causaria ter uma autonomia sem ter as demais. Hoje, nós vivemos a realidade de ter uma autonomia operacional sem ter uma autonomia administrativa e financeira, e vê a dificuldade no dia a dia de conduzir o Banco Central sem ter uma autonomia mais ampla", disse Campos Neto, que, apesar das críticas, ressaltou o avanço de possuir ao menos a autonomia operacional.