Em ata divulgada nesta quarta-feira (6/4), o Federal Reserve (FED), banco central dos Estados Unidos, informou que pode partir para uma política monetária mais dura, com novos aumentos nas taxas de juros. A medida vem para tentar conter a inflação no país, que atingiu seu maior nível em 40 anos — 6,4% em fevereiro, considerando o Índice de Preços de Despesas de Consumo Pessoal (PCE). No Brasil, a moeda norte-americana passou o dia em alta, enquanto o Ibovespa teve queda.
Já há alguns dias, o mundo estava à espera do posicionamento do FED. Na última reunião realizada pela autarquia, em 16 de março, os EUA tiveram a primeira alta de juros registrada desde 2018. Na ocasião, foi acrescentado 0,25 ponto percentual, elevando a taxa, e o presidente do órgão, Jerome Powell, declarou que o banco estava disposto a intensificar as taxas.
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Segundo o sócio-fundador da HOA Asset Management, Carlos Antônio Castrucci, o conflito Rússia-Ucrânia tem grande papel no processo inflacionário. “Os países desenvolvidos estão vivendo com esse fantasma da inflação. Com essa ata, o que a gente viu é que o FED está mais agressivo, já contratando uma alta de 50 pontos base, ou seja, acelerando o ritmo de alta nas taxas de juros americanas para a próxima reunião, inclusive deixando a porta aberta para novas altas nessa mesma magnitude paras as reuniões seguintes.”
Além de escalar os juros, o Federal Reserve anunciou o volume de retirada de estímulos, ou seja, de retirada de liquidez tanto no mercado de hipotecas quanto de treasures (títulos públicos).
“Se o FED entrar num terreno contracionista, se precisar subir os juros mais do que o mercado está esperando, acima do nível neutro, isso pode trazer muito impacto para os mercados de ações de forma geral e para a economia, porque juros altos tem uma relação inversamente proporcional à atividade econômica e resultado das empresas”, detalhou Castrucci.
Impacto
A apreensão do mercado se dá pela percepção de que os Estados Unidos estão atrasados no quesito controle da inflação. De acordo com Renan Silva, gestor da Metrix, é natural que haja pressão inflacionária visto o cenário de estímulos monetários investidos durante a pandemia.
“O que os analistas estão observando é que talvez o remédio foi dado numa dose um pouco acima do necessário. A taxa de juros não é compatível para esse controle inflacionário, então o mercado teme um choque”, explicou.
A consequência, segundo o especialista, é que se tem os Estados Unidos, um país com classificação de risco melhor, pagando um prêmio pelo risco maior. “Então, o fluxo financeiro, por exemplo, que está vindo para os emergentes, em especial o Brasil, pode ser canalizado para compra de títulos norte-americanos”, apontou Renan.
Apesar disso, ele acredita que o Brasil deve continuar competitivo ao menos pelo próximo ano. Isso porque tem um bom desconto nas empresas da Bolsa de Valores e, diferentemente dos Estados Unidos, está mais avançado em relação à inflação, com a taxa de juros a 11,75%.
*Estagiárias sob a supervisão de Andreia Castro