Um dos alimentos mais presentes no cotidiano dos brasileiros, o pão está ficando salgado para o bolso. O item teve alta de até 20% em março, principalmente pela valorização do trigo no mercado internacional, pressionado pela guerra na no Leste Europeu. Atualmente, 60% da demanda interna do insumo é atendida por importação, e 85% desse total é originário da Argentina.
De acordo com a Associação Brasileira da Indústria da Panificação e Confeitaria (Abip), o preço do quilo do pão apresentou elevação de 12% a 20%. "O setor de panificação e confeitaria tem absorvido consecutivas altas no preço da farinha desde o ano passado. No entanto, devido à pandemia e a incertezas de mercado, os valores não foram repassados ao consumidor", informou a assessoria da Abip ao Correio.
"Um empreendedor, independentemente da sua área, precisa criar e revisar suas planilhas de custos, para tornar viável o negócio. O trigo é apenas um dos elementos que compõem os produtos que têm tido altas constantes. Somado a ele também devemos considerar a alta do óleo, da energia, do combustível, entre outros", acrescentou a associação.
Neste cenário, alguns empresários assumem o risco de sofrer prejuízo para manter a clientela. Camila Marconi, sócia-proprietária de uma padaria do Lago Norte, conta que, como a franquia é nova, fica difícil subir os preços. Lá, um quilo de pão francês sai por R$ 16, bem abaixo dos R$ 21,90 em outro estabelecimento do Sudoeste. Segundo a empresária, o foco no momento é fidelizar os clientes.
"O custo ficou maior, mas a gente não está repassando para os clientes, principalmente porque a padaria é nova, tem só nove meses", explica. Segundo ela, um dos fatores que permitem manter os valores é o esforço dos fornecedores, que sofrem com os combustíveis.
"Os fornecedores vêm só uma vez por semana, por causa da gasolina. Então, eles estão nos ajudando nesse sentido, porque evitam repassar os custos da gasolina para gente", disse Marconi.
Saiba Mais
Muito caro
Rússia e Ucrânia são responsáveis por 30% do mercado mundial de trigo, o que corresponde a cerca de 210 milhões de toneladas. O presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Rubens Barbosa, diz que o conflito entre os países deve ter efeitos por todo o mundo. "A farinha de trigo, nos últimos meses, teve um aumento de cerca de 10%, sem registrar queda na demanda", observou.
Para os consumidores, também não está fácil. Na fila para comprar pão, o procurador federal Odílio Ferreira, de 66 anos, disse entender o porquê da alta. "A gente sabe que o preço é por causa dessa guerra entre Rússia e Ucrânia. Isso está afetando todos os países e aqui no Brasil, infelizmente, também vai afetar. Não tem para onde correr", comentou.
A aposentada Alice Camparino, de 60 anos, veio de Salvador para Brasília. Ela contou que os preços na capital federal são bem mais elevados. "O pão daqui está muito caro, subiu estupidamente. Essa padaria ainda está mais barata do que a que eu fui antes. Lá, estava R$ 24 o quilo. Aqui está R$ 19", comparou.