INFLAÇÃO

Campos Neto sobre aumento recorde da inflação: "Foi uma surpresa"

Presidente do BC admite que pressões inflacionárias não estão contidas pela valorização do real. IPCA de março teve a taxa mais elevada do mês, recorde desde o inicio do Plano Real

Rosana Hessel
postado em 11/04/2022 11:28 / atualizado em 11/04/2022 19:38
 (crédito: Raphael Ribeiro/BCB)
(crédito: Raphael Ribeiro/BCB)

Assim como os agentes do mercado, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, admitiu que a inflação oficial de março ficou muito acima das expectativas. O aumento preocupa bastante, especialmente, porque a recente queda do dólar não está sendo suficiente para amortizar as pressões decorrentes da disparada dos preços dos combustíveis - que sofreram um mega reajuste no mês passado pela Petrobras. Com isso, ele reconhece que os dados precisam ser melhor avaliados pelo BC.

“A inflação do índice mais recente foi uma surpresa. Eu tinha mencionado a velocidade mais rápida da passagem do aumento do combustível na bomba e parte foi isso. Mas houve outros elementos, como vestuário e alimentos (que tiveram altas de preços). Essa surpresa se fez em vários países e a realidade é que nossa inflação está muito alta e os núcleos estão muito altos, além de mais persistente”, alertou Campos Neto, nesta segunda-feira (11/4), durante evento virtual para debater o cenário econômico, organizado por TC Mover e Arko Advice.

Como ainda há defasagem nos preços dos combustíveis no mercado interno, ele e os demais diretores do BC devem analisar melhor os dados para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que ocorre nos dias 3 e 4 de maio. “Agora, vamos analisar os fatores que estão gerando essas surpresas inflacionárias e comunicar no momento mais apropriado”, afirmou. Na última reunião do Copom, a taxa básica de juros (Selic) foi elevada em um ponto percentual, para 11,75% ao ano, e o BC sinalizou que fará um ajuste da mesma magnitude, para 12,75%.

Na avaliação de Campos Neto, o conflito na Ucrânia tem proporções maiores do que o previsto, mas ainda não é possível saber o impacto para o Brasil. “O país já sofria uma crise energética e o desafio da transição verde pode ser uma oportunidade para o país, mas, por outro lado, será preciso dar um passo atrás para reorganização das cadeias de valores. O custo de oportunidade se acha que, no médio e no longo prazos, deve haver uma desaceleração do crescimento global e menos dependência de combustíveis fosseis”, alertou.

Diante da guerra da Ucrânia, que está modificando o cenário geopolítico global, o presidente do BC afirmou que a valorização do real ajudou a amortizar a disparada dos preços dos alimentos, mas não compensou a alta dos combustíveis. “E parte dessa melhora do câmbio ainda não está refletida nos índices de inflação”.

 

IPCA bate recorde desde início do Plano Real 

Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acelerou 1,62% em março, a taxa mais elevada para o mês nos últimos 28 anos, batendo recorde desde o inicio do Plano Real. No acumulando em 12 meses, o salto foi de 11,30%. O índice de difusão da carestia ainda subiu de 75% para 76% entre fevereiro e março, o que tem preocupado analistas e o presidente do BC por conta da disseminação muito elevada da inflação na economia.

Campos Neto disse que o BC vai analisar mais profundamente os dados do IPCA de março para tomar as próximas decisões, mas lembrou que essas surpresas nos índices de preços, não apenas no Brasil, confirmam que a inflação não é de oferta e, portanto, não será temporária como previam os bancos centrais. Logo, a sinalização do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), de que poderá ser mais agressivo na alta dos juros, também gera preocupação sobre o impacto desse aperto monetário, quando ocorrer, nos países emergentes – que vinham sendo beneficiados pela demora do aumento dos juros dos países desenvolvidos, com fluxo maior de entrada de capital e valorização de suas respectivas moedas.

De acordo com dados apresentados por Campos Neto, o real é a moeda emergente que mais se valorizou neste ano, com alta de 14,63% no acumulado até 8 de abril. Ele, inclusive, reconheceu que a valorização do real neste ano, com eleições presidenciais em outubro, ainda não pode ser sustentável em um cenário em que o país tem um crescimento estrutural muito baixo, apesar das recentes revisões para cima do mercado para o Produto Interno Bruto (PIB) e mais próximas de 1%, como o esperado pelo BC.

“Temos um ano com várias incertezas locais, como leilões. E todo esse processo de entender o novo papel do Brasil nessa nova divisão geopolítica é mais uma oportunidade do que um problema. O país não estava inserido nesse processo de cadeias globais produtivas”, disse.

Ainda durante a apresentação, Campos Neto voltou a destacar os avanços do Pix e dos estudos do BC para o desenvolvimento da moeda digital. Para ele, o processo de digitalização que está em curso é “irreversível”.

 

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