Sob o impacto da alta dos combustíveis e com disseminação generalizada por vários grupos de produtos e serviços, a inflação de março foi a maior para o mês em 28 anos. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 1,62% no mês passado, acumulando alta de 11,3% nos últimos 12 meses, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A variação média dos preços no mês passado foi a mais elevada para meses de março desde 1994, ou seja, antes do Plano Real. O índice acumulado em 12 meses, por sua vez, corresponde a mais de três vezes o teto da meta estabelecida para o ano pelo governo, de 5%. E é a maior variação desde outubro de 2003.
Oito dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados pelo IBGE tiveram alta em março. Os principais impactos vieram dos transportes (3,02%) e de alimentação e bebidas (2,42%), grupos de maior peso no cálculo do IPCA.
Os transportes acumulam alta de 17,37% em 12 meses, puxados pelos combustíveis (27,89%). No período, a gasolina subiu 27,48%, o óleo diesel, 46,47% e o etanol, 24,59%. Também se destacaram o transporte por aplicativo (42,74%) e o seguro voluntário de veículos (16,43%).
Já os gastos com habitação tiveram aumento de 15%, com variações de preços de 28,52% para energia elétrica residencial e de 29,80% para os combustíveis domésticos, o que inclui o gás de cozinha.
Os preços dos alimentos subiram 11,62% em 12 meses, puxados por itens como cenoura (166,17%), tomate (94,55%) e hortaliças e verduras (33,29%).
A alta do IPCA em março veio acima das expectativas do mercado, que aumentou as estimativas para o ano. A LCA Consultores elevou a projeção de 7,5% para 8%. "O IPCA de março mostrou pressões bastante disseminadas", indicou a consultoria, em relatório.
De acordo com o Mitsubishi UFJ Financial Group (MUFG), o pico de inflação em 12 meses será atingido em abril, quando o IPCA deverá acumular variação anual de 11,6%. "A partir daí, poderemos ver uma desaceleração gradual, e nossa previsão para o ano inteiro está em 6,6%. De qualquer forma, o IPCA acima do esperado em março leva a algum viés de alta para a nossa expectativa em torno de 7%."
Segundo Fábio Astrauskas, professor de economia do Insper e CEO da Siegen Consultoria, a inflação de dois dígitos deve continuar a assombrar a população por um bom tempo. "Mais do que o número em si, a alta assusta pelo que representa: perda acelerada do poder de compra, principalmente das camadas de menor renda da população, em itens básicos, como alimentos e combustíveis. E não há sinal de que o quadro vá se reverter, pelo menos a médio prazo. Ao contrário. Os juros continuam a subir no país, em uma tentativa do Banco Central de reduzir a inflação — um remédio que, isoladamente, não cura a doença, e tem como um de seus efeitos colaterais a retração econômica."
Como consequência, o professor destaca mais problemas à frente, como desemprego. "Some-se a isso o noticiário negativo que vem do exterior, com a continuidade da guerra na Ucrânia e a elevação dos juros também nos Estados Unidos, e fica ainda mais difícil prever um arrefecimento significativo da inflação", concluiu Astrauskas.
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Mais pobres
Assim como o IPCA, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que mede a inflação percebida por famílias com renda até cinco salários mínimos mensais (R$ 6.060), também disparou em março. A alta foi 1,71%, após elevação de 1% em fevereiro, segundo o IBGE. Esse foi o maior resultado para um mês de março desde 1994. No resultado acumulado de 12 meses, o INPC ficou em 11,73%.
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