COMBUSTÍVEIS

Troca no comando da Petrobras desagrada caminhoneiros

Para Chorão, um dos líderes da paralisação de 2018, o governo só está tentando "ganhar tempo". Em entrevista ao Correio, ele reclama das promessas não cumpridas "tudo balão de ensaio"

Os caminhoneiros não gostaram nem um pouco da mudança no comando da Petrobras. Para eles, é tudo uma mera encenação para não mexer na política de preços da estatal e a narrativa continua a mesma quando o presidente Jair Bolsonaro (PL) trocou Roberto Castello Branco por Silva e Luna.

“É a mesma narrativa. Isso é um ato totalmente político para mostrar que Bolsonaro está tentando fazer alguma coisa. Mas o que ele está fazendo é tentar ganhar tempo”, avaliou Wallace Landim, o Chorão, presidente da Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava).

Segundo o sindicalista, a categoria está “sem forças” para fazer qualquer tipo de mobilização e aposta na ação na Justiça para acabar com a política de preços internacionais (PPI) da estatal.

Chorão contou que o processo que a Abrava deu entrada em Brasília foi encaminhado para a Justiça do Rio de Janeiro, após a Advocacia-Geral da União (AGU) alegar que não responde pela PPI. Segundo Chorão, a Petrobras já foi notificada e a expectativa é de que alguma decisão saia “até sexta-feira”.

“Temos essa ação civil pública. Mas temos todas as dificuldades econômicas e financeiras e, se pararmos, vamos matar nossa própria família”, disse Chorão ao Correio, para justificar a falta de mobilização da categoria, como ocorreu na paralisação de 2018, da qual ele foi um dos líderes. “Uma hora, a categoria vai acabar parando porque não vai mais conseguir trabalhar”, acrescentou.

O sindicalista reclama ainda das promessas não cumpridas de Bolsonaro, que tinha prometido, inclusive, um auxílio diesel para os caminhoneiros que ainda não está sendo pago. “Tudo o que prometeram não cumpriram. A única coisa que saiu do papel foi o Rode Bem Caminhoneiro”, disse ele, citando o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS). “Existem travas e nada saiu até agora. É tudo balão apagado”, afirmou.

Na noite de segunda-feira (28), o governo anunciou a indicação do economista Adriano Pires, diretor e sócio do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), para o lugar do general Joaquim Silva e Luna no comando da Petrobras. Para o mercado financeiro, a indicação de Pires é uma sinalização de que a estratégia da companhia não deverá mudar.

Segundo Chorão, assim que Pires assumir deve promover novos reajustes, porque a defasagem do diesel está elevada. “E tem um deságio de mais de 15%. Quero ver se ele (Adriano Pires) vai segurar ou vai repassar”, afirmou.

Alta dos preços

O sindicalista reforçou o discurso de que não há sentido o governo, que tem autossuficiência na produção de petróleo, não ter uma forma de amenizar a alta dos preços de combustíveis. “Temos o preço do diesel atrelado à moeda estrangeira. É preciso ter coragem para chamar a diretoria administrativa da Petrobras e ter um posicionamento contra isso”, disse. “Eles têm a narrativa de que é preciso importar. Mas já fizemos o levantamento. Nosso produto é excelente e pode manter a produção interna, principalmente, em uma situação como a atual”, acrescentou.

Para Chorão, o presidente Jair Bolsonaro (PL), junto com o Ministério da Economia e a Petrobras, “não quer desagradar o mercado”. “Eles ficam com medo de o preço da ação baixar. Aí, basta o governo comprar tudo e assumir o controle”, afirmou.

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