Mais de dois anos após o início da pandemia, medicamentos com eficácia comprovada contra a covid-19 não estão incorporados pelo Sistema Único Saúde (SUS). Em hospitais privados, alguns remédios aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para tratar a doença já são colocados à disposição dos pacientes. No caso das pílulas antivirais, como Molnupiravir e Paxlovid, ainda não houve aval para uso no Brasil.
Um dos principais entraves está no preço dos tratamentos. Não há perspectiva de data para que esses remédios estejam disponíveis no SUS.
Remédios como Sotrovimabe e Evusheld não possuem estoque para comercialização no país e não têm cobertura para o uso ambulatorial ou domiciliar pela Agência Nacional de Saúde (ANS), que regula os planos de saúde. A autarquia informou que os medicamentos desse tipo só têm cobertura obrigatória caso sejam prescritos pelo médico para administração durante a internação. Posteriormente, pode ser feita a solicitação de reembolso.
Esse não seria o cenário ideal, uma vez que tratamentos com remédios como o Remdesivir podem custar até R$ 20 mil, aponta a farmacologista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Soraya Smaili. "Quem mais sofreu óbitos com o pico da ômicron foram pessoas acima de 80 anos. A vacina protege, mas a proteção pode ser reduzida em idosos e pessoas com comorbidades", observou.
Dois tipos
Os remédios para a covid se dividem em duas frentes: a das pílulas antivirais de via oral, e a dos anticorpos monoclonais. Até o momento, apesar de o primeiro tipo já ter sido aprovado em países da Europa e nos Estados Unidos, somente o segundo tipo recebeu aval no Brasil.
Chefe do departamento de Infectologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Alexandre Naime Barbosa explica que, para pacientes com covid leve da rede privada, o Regdanvimabe seria o único com estoque disponível no Brasil. Poderia reduzir o risco de progressão da covid em 70%, segundo estudos clínicos de fase 3.
O preço, no entanto, é um entrave para a rede pública — vai de R$ 9,8 mil a R$ 12 mil, a depender do peso do paciente. Além disso, há uma hesitação em relação à eficácia dos anticorpos monoclonais no combate à ômicron, mais transmissível, o que faz mesmo hospitais privados repensarem as estratégias para tratar o coronavírus.
No caso de pacientes com covid-19 hospitalar, Naime reforça que a rede pública consegue oferecer opções como o corticosteróide Dexametasona, primeira droga que se mostrou eficaz nesses casos. Outras alternativas, como ventilação e intubação, também foram incorporadas pelo SUS.
A Conitec analisa o Baracitinibe, inibidor seletivo usado para artrite reumatoide e que se mostrou eficaz contra a covid. Na rede privada, tratamentos envolvendo o remédio custam entre R$ 2 mil e R$ 3 mil, o que o tornaria mais acessível.
No Brasil, a Anvisa recebeu pedido de uso emergencial do Molnupiravir, da Merck Sharp & Dohme (MSD), em novembro. Conforme painel da agência, 53% da documentação teve a análise concluída, 41% está em análise e 5% ainda está pendente de complementação. Em nota, a MSD informou que teve novas informações solicitadas pela agência há cerca de duas semanas e está compilando os dados para reenviar à agência.
No caso do Paxlovid, da Pfizer, o pedido foi feito em fevereiro. A Anvisa aponta que 50% da documentação teve a análise concluída e 41% ainda está em análise. A farmacêutica informou, em nota, aguardar a revisão da agência.