Após um aumento abrupto nos preços dos combustíveis em todo o Brasil, os postos começaram a recuar no reajuste. A alta promovida nas refinarias pela Petrobras — de 24,9% no diesel, 18,8% na gasolina e 16% no gás de cozinha — foi o principal fator mencionado para o choque no bolso dos consumidores. Com a cotação do petróleo mais perto da “normalidade” e a diminuição da demanda para abastecer os veículos, contudo, os estabelecimentos parecem estar revendo o repasse feito aos clientes. Como muitos brasileiros ainda insistem na alternativa, vale o questionamento: será que ainda compensa optar pelo etanol?
O combustível tem 30% menos poder calorífico do que o diesel e a gasolina, derivados do petróleo. Assim, mesmo com os valores assustadores desses combustíveis, é preciso colocar na balança. A ideia é de que o álcool só é vantajoso se estiver custando até 70% do que estiver sendo cobrado pela gasolina, porque resulta em menos quilômetros rodados. A alternativa, porém, pode deixar de ser a melhor daqui para frente.
“O etanol está em falta no mercado no Brasil inteiro porque o aumento da gasolina em mais de R$ 0,60 fez com que houvesse um aumento, de uma semana para a outra, muito grande na procura pelo etanol hidratado, por ter um preço menor”, explicou o presidente do Sindicombustíveis-DF, Paulo Tavares.
Segundo ele, até o fim do ano passado, abastecer com etanol não compensava em nenhum estado brasileiro. Agora, é vantagem em pelo menos cinco unidades federativas: Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná e Paraíba.
Na prática, para saber o que ficará mais em conta, divida o preço do litro do etanol pelo da gasolina. Se o resultado for menor que 0,7, o recomendável é abastecer com álcool. Caso seja maior, o mais viável é optar pela gasolina.
“Brasília, por exemplo, que a média gira em torno de 0,9 a diferença, passou para 0,7. Além disso, tem a questão psicológica. Você pagar um produto de R$ 7 e outro na casa dos R$ 5, às vezes, ele nem leva em conta a questão do 0,7, que é o mínimo, ele vai só mesmo pela questão do valor”, comentou Paulo Tavares.
Saiba Mais
Temporário
O que está acontecendo atualmente é que o etanol voltou a subir. Só na semana passada, o litro teve elevação de R$ 0,20. Ainda está longe da gasolina, cujo custo na refinaria é de R$ 4 e chegou a ser vendida a R$ 7,999 em alguns locais. Hoje, nos postos, já é possível abastecer pagando R$ 7,099, a depender do estabelecimento. Nas usinas, o álcool vale em torno de R$ 3,20.
De acordo com o presidente do Sindicombustíveis-DF, o respiro em relação ao preço dos combustíveis pode ter prazo de validade, embora não seja possível prever com exatidão quando vai expirar. Isso porque a margem de lucro dos revendedores está muito pequena. “O preço de custo [da gasolina] está em torno de R$ 6,80 a R$ 7. Isso vai variar de bandeira para bandeira: entre os postos grandes e entre os postos chamados bandeira branca, que importam”, elucidou Tavares.
O aumento da Petrobras e a queda do preço do barril do petróleo levaram o preço da estatal brasileira e a paridade internacional a ficarem praticamente zero a zero. “Então, os postos bandeira branca, que compram mais barato, estão fazendo com que vários postos baixem o preço.”
Outro aspecto importante é que muitos consumidores encheram o tanque antes de os novos valores entrarem em vigor, cenário que levou alguns estabelecimentos a “se desesperarem um pouco”. “Aí, baixam o preço para cumprir contrato e o vizinho, que não quer perder galonagem também, acaba baixando. Esse preço, essa baixa, não dá para afirmar por quanto tempo vai perdurar mas, com essa falta de produtos, etanol e diesel, principalmente, pode ser que não perdure muito tempo”, explica Tavares.
Alta justificada
A elevação dos valores nas refinarias foi justificada pela guerra entre Rússia e Ucrânia, que fez o petróleo chegar a ser negociado na casa dos US$ 139, segundo explico a Petrobras. Em um comunicado divulgado nesta sexta-feira (18/3), a estatal afirmou que os ajustes são importantes para que o mercado brasileiro possa seguir sendo suprido por distribuidores, importadores e produtores.
“A Petrobras tem sensibilidade quanto aos impactos dos preços na sociedade e mantém monitoramento diário do mercado nesse momento desafiador e de alta volatilidade, não podendo antecipar decisões sobre manutenção ou ajustes de preços”, alegou em nota.
Além disso, a estatal mencionou que “os valores aplicados naquele momento, apesar de relevantes, refletiam somente parte da elevação dos patamares internacionais de preços de petróleo, que foram fortemente impactados pela oferta limitada frente à demanda mundial por energia”.
*Estagiária sob a supervisão de Andreia Castro