A falta de políticas públicas é um dos principais motivos da forte alta de preços dos combustíveis. A avaliação é do economista Guilherme Mello, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e um dos conselheiros econômicos do pré-candidato do PT à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva.
"Esse problema não é só dos combustíveis, é dos alimentos também. Não existem mais estoques reguladores e isso deixa o país mais vulnerável ao choque de preços. Isso é fruto do desmonte de instrumentos de políticas públicas", disse Mello, ontem, pouco antes de participar, em Brasília, do Fórum do Desenvolvimento, organizado pela Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE).
O economista criticou o aumento das importações de gasolina e de diesel, para ele reflexo da venda de empresas que atuavam em áreas estratégicas da Petrobras. Segundo Mello, a estatal lucrou muito no curto prazo, mas vai perder força no futuro porque se tornará "uma mera exportadora de petróleo cru", na contramão dos conglomerados globais de energia.
Já para o ex-governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto (MDB), que integra a equipe econômica da pré-candidata do MDB à Presidência Simone Tebet, que também participou do evento da ABDE, é importante um estudo mais aprofundado para as privatizações. "Existe um quadro em privatizações, e parceria público-privada pode ser mais eficiente. Têm estatais que, no meu modo de ver, não precisam continuar nas mãos do estado", disse.
Adaptações
Alheios à discussão técnica e política sobre o aumento dos combustíveis praticado pela Petrobras, há poucos dias, os donos de veículos começam a se adaptar à nova realidade. E uma das saídas que muitos motoristas encontraram é diminuir a frequência com que usam o carro.
O comerciante Rosemberg Leite, de 58 anos, é um deles. Conforme disse, se a alta continuar, utilizar o automóvel impactará o custo do serviço que presta. "Trabalho com comércio e não tem como não usar o carro. Agora, estou tentando me organizar para sair e resolver três, quatro coisas de uma vez só. É uma maneira de consumir menos e não repassar os custos do combustível integralmente para o cliente", explicou.
Mas há pessoas que não têm a alternativa de rodar menos com o carro. É o caso do advogado Wilson Barbosa, 40. "Rodo somente o necessário por dia, não tem como reduzir. Não tem como fugir disso", lamentou. Segundo ele, adequação do custo do combustível ao orçamento ficará a cargo do corte de outras despesas.
As finanças do contador Ailton Galvão, 46, também vão ter que se adaptar à nova realidade. Começará o processo utilizando o carro apenas para o essencial. "Pesou no orçamento, mas o que a gente pode fazer? O jeito é usar só para o que for necessário, evitar as saídas supérfluas", assegurou.
O presidente do Sindicombustíveis-DF, Paulo Tavares — que congrega os revendedores de combustíveis —, acredita que, com a redução no consumo, os postos terão de competir entre si para oferecerem o melhor preço e fidelizar o motorista. "Hoje (ontem), os combustíveis subiram na distribuidora R$ 0,05, na gasolina, e R$ 0,15 no etanol, movimento que deveria ser ao contrário. Os clientes sumiram por causa do preço e muitos estão com os tanques cheios. Assim, começa a guerra por clientes e o preço cai", previu.
* Estagiária sob a supervisão de Fabio Grecchi