Enquanto o governo ainda não consegue encontrar uma solução consensual para conter o choque do petróleo devido à guerra no Leste Europeu, que provocou um novo reajuste da Petrobras, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que está “quase lá”.
“Estamos ainda correndo atrás. Estamos quase lá, quase lá”, disse Guedes, na tarde desta quinta-feira (10/3), a jornalistas, quando retornou ao seu gabinete, no Bloco P da Esplanada dos Ministérios. Ele foi questionado sobre o novo reajuste no preço da gasolina, do diesel e do gás de cozinha anunciado hoje pela Petrobras.
A fala de Guedes ocorreu pouco antes de o plenário do Senado aprovar justamente o projeto de lei ao qual o ministro era contra, o PL 1472/2021, que implementa a Conta de Estabilização de Preços (CEP), do senador Jean Paul Prates. Foram 61 votos a favor, 8 contra e nenhuma abstenção. Logo após o reajuste da Petrobras, a pasta reforçou o apoio apenas ao PLP 11/2020, que trata da mudança na alíquota de cálculo do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre os combustíveis.
Mais cedo, a Petrobras anunciou que, a partir de amanhã, haverá aumento no preço dos combustíveis nas refinarias. O litro do diesel terá aumento de 24,9%. A gasolina, será reajustada em 18,7%, e o gás de cozinha, em 16%.
O reajuste incomodou os caminhoneiros, que estão se mobilizando pelas redes sociais. Eles alegam que, por conta do preço do diesel, já não dá para se fazer protestos nas ruas. O presidente da Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Wallace Landim Cardoso, conhecido como Chorão, disse que “agora é uma questão de desespero”. Ao ser questionado se continuaria apoiando Bolsonaro, o sindicalista não comentou o assunto.
Defasagem
O novo reajuste da Petrobras não estava sendo esperado na magnitude em que foi anunciado, segundo analistas do mercado. Contudo, pelos cálculos de Adriano Pires, sócio-diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), novos reajustes devem ocorrer uma vez que, com o aumento de hoje, a defasagem da gasolina e do diesel continua elevada em relação ao preço praticado no mercado internacional.
“Com o ajuste, a defasagem estimada do preço da gasolina fica em -20%; estava em -31,6% no último dia 7. No caso do diesel, essa diferença fica em 19%, mas estava em 34,1% (na mesma data)”, disse Pires. Para ele, novos aumentos dependerão do desenrolar da guerra.
O economista-chefe do Banco Original, Marco Antonio Caruso, contou que o reajuste dos combustíveis elevou a projeção para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), deste ano de 6,20% para 6,55%. "A revisão não é maior porque uma parte desse reajuste já estava na conta", explicou. O maior impacto é da gasolina, cujo reajuste de 18,7% implicará em 0,42 ponto percentual a mais no IPCA. Para o diesel, esse impacto é de 0,03 ponto; para o gás de cozinha, de 0,10 ponto. "A tendência é que a inflação continue elevada e no patamar de dois dígitos até maio, se a guerra não se prolongar", alertou.