Os choques sofridos pelo mercado exportador começam a refletir nos preços das commodities agrícolas. As negociações no mercado futuro se mantêm elevadas enquanto o mercado precifica o conflito entre Rússia e Ucrânia e avalia a recuperação global da pandemia da covid-19. Há ainda o temor da escassez de fertilizantes, devido à importância da Rússia neste segmento.
Na Bolsa de Nova York, soja, milho e trigo no mercado futuro fecham negociadas em valores acima do normal anterior a 2020, quando os preços começaram a subir. Alê Delara, diretor da Pine Agronegócios, cita commodities que possuem origem na região do Mar Negro, como o trigo, do qual Rússia e Ucrânia somadas possuem 30% do mercado de exportação, próximo a 59 milhões de toneladas. “O milho é outra commodity fortemente impactada, pois a Ucrânia está entre os 4 maiores exportadores globais, e acaba gerando pressão nos preços”, afirma. “A soja vem na carona, pois é um dos três principais ingredientes para ração animal, junto com o milho e trigo”, destaca.
Delara aponta que o mercado consumidor deve esperar alta nos preços. Possivelmente, a indústria irá absorver grande parte da inflação das commodities, mas alguma coisa será repassada ao consumidor. “Neste cenário de guerra, entre grandes produtores de alimentos, podemos esperar reajustes de preços em todos os alimentos processados, principalmente, aqueles que possuem o trigo como matéria-prima”, afirma. Ele ainda lembra que o preço dos combustíveis deverá ser repassado aos preços também já que o barril de petróleo ultrapassou a marca de U$ 110 o barril.
Renan Silva, gestor da Bluemetrix Asset, reforça a alta nos preços somada à pandemia, que ainda pressiona, e à questão dos fertilizantes. Segundo ele, também, “soja e milho são essenciais para alimentar animais e isso será repassado às proteínas suínas, bovinas, por exemplo. Há o petróleo também que será aglutinado ao frete. Não temos perspectiva de quando o conflito acabará e o mercado continuará precificando”, diz.
Segundo o analista de mercado futuro e economista Paulo Paiva, a quebra na produção e exportação do trigo criará uma demanda reprimida. Ele afirma que será mais caro comprar produtos feito à base do cereal, mas não haverá escassez para países como Brasil ou para a União Europeia, que são grandes players. “Os mais pobres devem sofrer mais, estamos falando de 30% a menos no mercado global. Quem pode pagar, compra. Teremos produtos muito mais caros no mercado interno e isso vai virar inflação por escassez de oferta, mas não escassez nas prateleiras”, explica.
Trigo
Commodity ligada ao Mar Negro e cultivada por Ucrânia e Rússia — ambos representam 30% do mercado internacional. Em 1° de janeiro de 2020, fechou em US$ 525,03 o bushel. No mesmo período de 2021, encerrou o dia em US$ 607,97 o bushel, alta de 15,79%. Já em janeiro de 2022, o encerramento foi em US$ 791,14 o bushel, alta de 30,12%.
Milho
Outra commodity ligada ao Mar Negro e cultivada pela Ucrânia, sendo considerada importante ao abastecimento internacional. Em 1° de janeiro de 2020 fechou em US$ 320,17, o bushel. No mesmo período de 2021, encerrou o dia em US$ 519,62 o bushel, alta de 62,29%. Já em janeiro de 2022, o encerramento foi a US$ 604,49 o bushel, alta de 16,63%.
Soja
Não relacionada à região diretamente, sofre os impactos da quebra de fornecimento de fertilizantes agrícolas que podem atrapalhar a produtividade. Em 1° de janeiro de 2020 fechou em US$ 878,12, o bushel. No mesmo período de 2021, encerrou o dia em US$ 1.181,46 o bushel, alta de 34,54%. Já em janeiro de 2022, o encerramento foi em US$ 1.396,49 o bushel, alta de 18,20%.