As sanções impostas contra a Rússia após o país iniciar uma invasão à Ucrânia na última semana derreteram os investimentos e a confiança do mercado financeiro no país. As agências de classificação de risco rebaixaram a Rússia em seis níveis. As Fitch e Moody’s classificaram o país liderado por Vladimir Putin como "lixo", ou seja, tem alto risco de inadimplência.
Em meio à crise, o Banco Central russo deu o primeiro calote em investidores desde 1998, quando o país quebrou. A Bolsa de Valores está fechada pelo quarto dia e o rublo sofreu nova desvalorização, a 106,01 por dólar.
O Instituto de Finanças Internacionais (IIF) disse, em nota publicada, na quinta-feira (3/3), que o PIB russo deve sucumbir ao impacto das punições internacionais. As sanções podem levar o país a dar um calote em sua dívida externa. Segundo os analistas do órgão, a decisão de banir grandes bancos russos do sistema Swift foi considerada uma das mais severas impostas a um país na história recente.
O cientista político e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), Pedro Costa Júnior, analisa que Vladimir Putin se preparou para este tipo de impacto, aumentando suas reservas de dólares e euros, de 200 para 600 bilhões. “Metade dos recursos circula no sistema financeiro chinês, então o bloqueio no Swift não o afeta tanto”, explica.
O especialista ressalta que, em fevereiro de 2022, Rússia e China assinaram um documento que consolidava uma parceria “sem limites” em antagonismo à Otan. “Um novo paradigma nas relações internacionais que devolve ao Oriente poder. Na época, era difícil entender o que significava, mas, na ONU, a China se absteve e também não criticou a Rússia pela invasão”, diz.
Para o diretor da ComDinheiro, Filipe Ferreira, “o conflito afeta o mercado de ações russo, pois é mais caro confiar no país agora. O cenário seria comum devido à expectativa de risco. O que é incomum para despencar tanto? A mudança das premissas. Na Gazprom, uma das principais empresas de gás da Rússia que vende à União Europeia, com as sanções, a receita foi cortada instantaneamente”, observa.
“Quem sofre com as sanções é a Europa que precisa dos recursos. No futuro, a União Europeia terá que sentar à mesa e negociar”, completa Costa Júnior.
Esse incômodo das sanções é insuficiente para pressionar Vladimir Putin a ponto de cessar a guerra. É o que acredita o professor de Relações Internacionais da PUC-SP Rodrigo Amaral. “Recuar significaria um fiasco para a intervenção militar”, afirma. Para Amaral, as sanções a médio e longo prazo podem causar estragos.
A comunidade internacional tem discursado em favor dos ucrânianos e contra a Rússia. “Isso afeta as altas rodas da sociedade russa e a elite. A classe média sofre primeiro, essa que vive nos grandes centros urbanos como Moscou e São Petersburgo”. Para o especialista, é necessário observar as respostas civis aos bloqueios econômicos.