Conjuntura

Mercado, por ora, otimista

Dólar em baixa e Ibovespa em alta refletem efeitos da guerra na alta de commodities. Governo prepara pacote de medidas

A retomada dos negócios pós-feriado no Brasil foi de ajuste nos preços e boa performance das ações ligadas a commodities. No fechamento do mercado financeiro de ontem, o índice acionário brasileiro tinha alta de 1,8%, aos 115.174 pontos. Já no câmbio, o dólar voltou a recuar frente ao real, encerrando em baixa de 0,94%, aos R$ 5,11.

A Bolsa de Valores de São Paulo abriu em alta ontem, com 113.143 pontos. O mercado brasileiro voltou do feriadão de carnaval às 13h, com um desempenho que reflete a visão de investidores de que parte das empresas exportadoras de commodities serão beneficiadas pela alta desses produtos em razão da guerra entre Rússia e Ucrânia.

O head de análise da Levante Ideias de Investimentos Enrico Cozzolino, explicou que certamente o que favoreceu a bolsa de valores brasileira foi o petróleo e o minério. "A recuperação também da siderúrgica acabou contribuindo, mas acredito que, em virtude de toda a cautela com guerra e todas as sanções dos Estados Unidos, fizeram o mercado agir de uma forma cautelosa."

Segundo o economista-chefe da Necton, André Perfeito, o Ibovespa está reagindo como esperado. "Se o dólar ajusta, o Ibovespa segue em alta", ressalta. Para Perfeito, haverá volatilidade no mercado de capitais e isso impõe cautela. Mas, de forma geral, ele mantém uma leitura "otimista", apesar do conflito.

Já para Carlos de Oliveira, da Up Real Investimentos, em situações de risco, o mercado procura ativos mais seguros. "Exportar commodities sempre foi o forte do Brasil, por isso, fomos beneficiados inicialmente nessa situação. Mas não podemos esquecer os riscos sistêmicos do mercado. Outro ponto importante seria a saída do Swift. Um exportador brasileiro aceitaria exportar para a Rússia sem a garantia de receber?".

Segundo ele, o cenário brasileiro acumula mais incertezas do que a guerra, com eleições, Selic em ascensão para conter a inflação e expectativa de alta nos juros americanos. "Isso tudo traz muita volatilidade ao mercado. Por isso entendemos que é hora de sermos mais prudentes. Os ganhos de curto prazo podem ser atrativos, mas se errarmos nas escolhas, podemos perder mais do que ganhar", justifica Oliveira.

Bondades

Atento às eleições, o governo lançará pretende lançar, a partir da próxima semana, uma série de medidas para tentar impulsionar a economia, que ainda sofre com as consequências da pandemia. O "pacote de bondades", se bem-sucedido, pode ajudar na tentativa de reeleição do presidente Jair Bolsonaro, embora o governo negue a relação das iniciativas com o ano eleitoral.

Uma das medidas foi adiantada na terça-feira pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, a investidores em Nova York. Segundo o ministro, estrangeiros que adquirirem dívidas privadas (títulos de empresas) no Brasil passarão a ter isenção tributária.

As iniciativas devem ser apresentadas pouco a pouco. Para o mercado de crédito interno, os estudos apontam para medidas voltadas para companhias com faturamento de até R$ 300 milhões, em um total de R$ 100 bilhões. A reabertura do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) está prevista para a próxima semana.

Há também a redução de 25% do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), já formalizada em decreto, e o compromisso firmado com a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) de zerar a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).

O pacote prevê ainda a liberação do saque de até R$ 1 mil do FGTS. A ideia é beneficiar 40 milhões de pessoas. Em parceria com o Ministério do Meio Ambiente, a Economia também deve lançar medidas com "pegada verde", que inclui financiamento para projetos sustentáveis e incentivo para créditos de carbono.

(Com Agência Estado)